Nas últimas quatro décadas o nosso país assistiu a grandes mudanças quer a nível político, económico mas, essencialmente, a nível social. Estas mudanças resultaram de um descontentamento generalizado do estado de coisas que se desenrolavam desde o tempo do Estado Novo. Vivia-se num regime político ditatorial fechado a quase toda a influência externa. Contudo, as vozes de descontentamento surgiam, cada vez em tom mais elevado, o que culminou com a Revoluçao do 25 de Abril. Começámos a viver num regime democrático sob a protecção da Constituição Portuguesa de 1976. Mesmo antes da Revolução já se verificavam algumas alterações provocadas quer pela saída de grande número de pessoas (essencialmente homens) para outros países europeus, quer pelo facto da mulher ter entrado no mundo do trabalho quer, ainda, pela deslocação de massas das zonas rurais para as zonas urbanas em busca de melhores salários e, consequentemente, de melhores condições de vida.
Durante os últimos quarenta anos grandes foram as mudanças ocorridas a nível social. Passou-se a nascer menos e a morrer menos, o que se traduz numa actual população envelhecida em que o número de pessoas com mais de sessenta e cinco anos é superior ao número de jovens até aos quinze anos. Tal facto, deve-se aos cuidados de saúde que se estendem a todo o país e à melhoria das tecnologias aplicadas ao serviço de saúde, ao planeamento familiar, a uma melhor alimentação, a água com qualidade e à alteração nos hábitos de higiene.
Aposta-se na prevençao das doenças e na educação e promoção para uma vida mais saudável.
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Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, o seu papel na sociedade alterou-se. Passou a ocupar cargos outrora só desempenhado por homens. Estas modificações foram sendo projectadas na vida em família. Hoje, as tarefas domésticas são divididas por todos os elementos da família. Também a estrutura familiar sofreu modificações. Antes coabitavam três ou quatro gerações, hoje apenas duas gerações. O divórcio banalizou-se. Actualmente, as famílias podem ser monoparentais, uniões de facto, casais de homossexuais ou constituídas por pessoas que já tiveram outros casamentos e filhos de casamentos anteriores, juntam-se assim numa mesma família “os meus, os teus e os nossos filhos”. As relações que se estabelecem entre os vários constituintes da família são diversificadas mas, com o respeito que deve ser mantido entre os indivíduos, todos podem conviver em harmonia e criarem-se novos laços afectivos tão importantes ao crescer em equilibrio.
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A situação actual dos idosos torna-se um problema social. Ao longo das últimas décadas o idoso passou a ser encarado de forma bem diferente da que tinha nos anos sessenta: o idoso fazia parte integrante da família-era cuidado e mantido no seio familiar. Hoje, com o ritmo de vida agitado que todos levamos, tenta-se arranjar uma solução adequada à situação familiar onde, por vezes, a vontade do idoso não prevalece. As instituições de apoio a idosos crescem a uma velocidade alucinante, o que não significa que todas as necessidades do idoso sejam contempladas; principalmente as afectivas. Os familiares, muitas vezes, abandonam o seu idoso nessas instituições desculpabilizando-se com os seus afazeres. Mesmo institucionalizado, o idoso pode ser feliz. Basta que os laços familiares não se quebrem.
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No campo da educação, passou-se de uma população com grande percentagem de analfabetos para uma população com elevadas taxas de jovens universitários. A educação e formação é fundamental para o desenvolvimento económico, político e social de um povo.
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De país de emigrantes passámos, nas últimas décadas, a país de emigrantes e de imigrados. Continuamos a emigrar, actualmente menos e quase de forma temporária. Ao regressar todos trazem um pouco da cultura do povo que os acolheu. Isso enriquece-nos como povo. Recebemos pessoas de todas as partes do mundo. As relações interpessoais dão-nos uma visão de como se vive noutras partes do mundo. Por vezes a coexistência não é fácil, devido às diferentes formas de estar. Trocamos saberes e aprendemos a ser tolerantes: a beleza da vida reside na diversidade. O respeito pelos hábitos e culturas de outros povos traduz-se num viver harmonioso, assim o queiramos, assim o queiram.
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Quem nos Ama não Menos nos Limita
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita
Que os deuses me concedam que, despido
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De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
(Ricardo Reis, in "Odes")
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