sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Impressionismo

Monet
Van Gogh

Monet
Monet


"O Impressionismo pertence à história, mas a sua aventura, semelhante à de todas as invenções plásticas, continua a ser actual. Definiram-no como um movimento artístico autónomo, preocupado em dar, do mundo exterior, uma representação que estivesse em harmonia com as verdades que, na mesma altura, eram propostas pela ciência. Na verdade, bem mais do do que um momento da história da arte, este programa, que reuniu uma plêiade de artistas, durante uma quinzena de anos, foi a primeira expressão da sensibilidade moderna. Menos uma técnica, ou um estilo, do que um estado de alma, o Impressionismo, que para os historiadores de arte terminou em 1890, continua a ser um acontecimento actual. " (O Impressionismo, Mathey,François).



«A arte não cessa de se renovar, não na paz e com o consentimento de todos, mas na violência e mesmo no escândalo.» (Henri Focillon).



"Um mundo estava à beira da falência. A tradição não era mais do que uma fachada. Habituados aos vernizes, às pátines, aos claros-escuros, os contemporãneos pensaram que os novos pintores estavam embriagados. Estavam-no com efeito, mas da luz reencontrada. Haviam regressado à origem. Reconhecendo que as regras académicas eram convenções, tinham-se libertado delas e haviam tentado construir um mundo interior, livre e dinâmico." (O Impressionismo, Mathey,François).



O Impressionismo é um movimento artístico surgido na França no século XIX que criou uma nova visão conceptual da natureza utilizando pinceladas soltas dando ênfase à luz e ao movimento. Geralmente, as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as nuances da luz e da natureza.



A arte alegre e vibrante dos impressionistas enche os olhos de cor e de luz. A presença dos contrastes, da natureza, transparências luminosas, claridade das cores, sugestão de felicidade e de vida harmoniosa transparecem nas imagens criadas pelos impressionistas.



Os impressionistas retratam nas suas telas os reflexos e efeitos que a luz do sol produz nas cores da natureza. A fonte das cores estava nos raios do sol. Uma mudança no ângulo, destes raios, implica a alteração de cores e de tons. É comum um mesmo motivo ser retratado diversas vezes no mesmo local, porém com as variações causadas pela mudanças nas horas do dia e nas estações ao longo do ano.




O Impressionismo mostra a graciosidade das pinceladas, a intensidade das cores e a sensibilidade do artista, que em conjunto emocionam quem contempla as suas obras.




Pintando directamente sobre a tela branca, utilizando sómente cores puras justapostas, geralmente sem as misturar, os impressionistas buscavam obter a vibração da luz, o aspecto efêmero da vida, o fugaz momento da luz e da sensibilidade, acto de amor entre o artista e o mundo, despido de toda e qualquer contingência exterior às suas motivações mais profundas.




Os principais representantes do grupo foram Monet, Manet, Renoir, Camile Pissaro, Alfred Sisley, Vincent Van Gogh, Degas, Cézanne, Caillebotte, Mary Cassatt, Boudin (professor de Monet), Morisot, entre outros.


Flores Velhas


Fui ontem visitar o jardinzinho agreste,

Aonde tanta vez a lua nos beijou,

E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste,

Soberba como um sol, serena como um vôo.

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Em tudo cintilava o límpido poema

Com ósculos rimado às luzes dos planetas:

A abelha inda zumbia em torno da alfazema;

E ondulava o matiz das leves borboletas.

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Em tudo eu pude ver ainda a tua imagem,

A imagem que inspirava os castos madrigais;

E as vibrações, o rio, os astros, a paisagem,

Traziam-me à memória idílios imortais.

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E nosso bom romance escrito num desterro,

Com beijos sem ruído em noites sem luar,

Fizeram-mo reler, mais tristes que um enterro,

Os goivos, a baunilha e as rosas-de-toucar.

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Mas tu agora nunca, ah! Nunca mais te sentas

Nos bancos de tijolo em musgo atapetados,

E eu não te beijarei, às horas sonolentas,

Os dedos de marfim, polidos e delgados...

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Eu, por não ter sabido amar os movimentos

Da estrofe mais ideal das harmonias mudas,

Eu sinto as decepções e os grandes desalentos

E tenho um riso meu como o sorrir de Judas.

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E tudo enfim passou, passou como uma pena

Que o mar leva no dorso exposto aos vendavais,

E aquela doce vida, aquela vida amena,

Ah! Nunca mais virá, meu lírio, nunca mais!

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Ó minha boa amiga, ó minha meiga amante!

Quando ontem eu pisei, bem magro e bem curvado,

A areia em que rangia a saia roçagante,

Que foi na minha vida o céu aurirrosado,

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Diziam-me que tu, no flórido passado,

Detinhas sobre mim, ao pé daquelas rosas,

Aquele teu olhar moroso e delicado,

Que fala de langor e de emoções mimosas;

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E, ó pálida Clarisse, ó alma ardente e pura,

Que não me desgostou nem uma vez sequer,

Eu não sabia haurir do cálix da ventura

O néctar que nos vem dos mimos da mulher.

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Falou-me tudo, tudo, em tons comovedores,

Do nosso amor, que uniu as almas de dois entes;

As falas quase irmãs do vento com as flores

E a mole exalação das várzeas recendentes.

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Inda pensei ouvir aquelas coisas mansas

No ninho de afeições criado para ti,

Por entre o riso claro, e as vozes das crianças,

E as nuvens que esbocei, e os sonhos que nutri.

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Lembre-me muito, muito, ó símbolo das santas,

Do tempo em que eu soltava as notas inspiradas,

E sob aquele céu e sobre aquelas plantas

Bebemos o elixir das tardes perfumadas.

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Eu tinha tão impresso o cunho da saudade,

Que as ondas que formei das suas ilusões

Fizeram-me enganar na minha soledade

E as asas ir abrindo às minhas impressões.

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Soltei com devoção lembranças inda escravas,

No espaço construí fantásticos castelos,

No tanque debrucei-me em que te debruçavas,

E onde o luar parava os raios amarelos.~

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Cuidei até sentir, mais doce que uma prece,

Suster a minha fé, num véu consolador,

O teu divino olhar que as pedras amolece,

E há muito me prendeu nos cárceres do amor.

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Os teus pequenos pés, aqueles pés suaves,

Julguei-os esconder por entre as minhas mãos,

E imaginei ouvir ao conversar das aves

As célicas canções dos anjos teus irmãos.

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E como na minha alma a luz era uma aurora,

A aragem ao passar parece que me trouxe

O som da tua voz, metálica, sonora,

E o teu perfume forte, o teu perfume doce,

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Agonizava o Sol gostosa e lentamente,

Um sino que tangia, austero e com vagar,

Vestia de tristeza esta paixão veemente,

Esta doença enfim, que a morte há de curar.

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E quando me envolveu a noite, noite fria,

Eu trouxe do jardim duas saudades roxas,

E vim a meditar em que me cerraria,

Depois de eu morrer, as pálpebras já frouxas.

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Pois que, minha adorada, eu peço que não creias

Que eu amo esta existência e não lhe queira um fim;

Há tempos que não sinto o sangue pelas veias

E a campa talvez seja afável para mim.

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Portanto, eu, que não cedo às atrações do gozo,

Sem custo hei-de deixar as mágoas deste mundo,

E, ó pálida mulher, de longo olhar piedoso,

Em breve te olharei calado e moribundo.~

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Mas quero só fugir das coisas e dos seres,

Só quero abandonar a vida triste e má

Na véspera do dia em que também morreres,

Morreres de pesar, por eu não viver já!

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E não virás, chorosa, aos rústicos tapetes,

Com lágrimas regar as plantações ruins;

E esperarão por ti, naqueles alegretes,

As dálias a chorar nos braços dos jasmins!

( Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde' )

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