quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Lua...

 Lá está ela

Linda

Gigante

A lua que brilha

A lua brilhante.


Olhem para ela

Poderosa

Radiosa

Nada vaidosa

Mas tanto que brilha

Tanto que alumia

A lua brilhante.


Não é uma estrela

Não tem luz própria 

É apenas um satélite 

Deste planeta Terra

Perfeito e harmonioso

Equilibrado e magnífico

Que tem como fontes

O sol e a água.


Mas a lua

Continua a encantar

Como nos tempos primórdios 

Faz-nos pensar

E faz-nos brilhar.


(Celeste Rebordão)




domingo, 9 de julho de 2023

Ontem


A pensar na apresentação do livro da Isabel Teodoro, ontem, em São Vicente da Beira.

Lá estávamos presentes. Unidos com aquela menina, agora mulher (e que Mulher!), como no tempo dos nossos pais... também eles unidos por laços familiares e de amizade e de extraordinária vizinhança. Juntos brincávamos enquanto crianças e vêm tantas memórias...

As nossas mães partilhariam assuntos mais importantes, certamente.

O tempo passa e continuamos a sentir a necessidade urgente de partilhar os momentos marcantes, os bons e os menos bons.

Eu sinto assim...

Continuo a sentir assim.

Aquela felicidade sincera e espontânea por vermos "um de nós" a fazer algo importante. 

Sentir a União e a Comunhão naquela família é extraordinário e comovente.

Deveríamos ser todos assim!

Obrigada por estas emoções. 

A leitura será feita de forma calma em momentos de total entrega.

🌻🌻🌻







Gostei muito da apresentação e da dinâmica do formato.
Gostei de ouvir a apresentação do livro pela Isabel. O que a motivou, as influências, como recolheu, como organizou.
Gostei dos cantares da Nazaré e da sra. Lurdes.
Gostei de ouvir a Tina a contar um Conto. 
Gostei da descrição da matança do porco pela Rosarito.  
Gostei do Ze Manel Santos a falar sobre a revolta dos gabões.
E tb gostei das palavras do sr. Presidente da Câmara.
Mas o que mais gostei foi da manifestação de felicidade  no rosto dos presentes. Uma atmosfera única e perfeita.

🌻🌻🌻

segunda-feira, 10 de abril de 2023

De Luís Osório...

 POSTAL DO DIA 


Um anjo gigante 


1.

O Aurelino Costa é o único anjo que conheço. 


Quando o vi pela primeira a dizer o “Cântico Negro”, de José Régio, fiquei aterrado de pasmo e encanto. 


O Aurelino é um dos melhores poetas portugueses e o diseur que mais me impressiona. 


O Aurelino é também uma série de outras coisas. 


Generoso, fraterno, afetivo, utópico, inteligente. 


Os seus olhos são vivos. 

Podiam ser olhos de criança, olhos espantados de mundo, olhos que ainda não se fartaram da maravilha de estar aqui, do som do vento, das vozes dos animais, da condição humana. 


Os seus cabelos desgrenhados, as suas mãos pequenas e os seus braços curtos quando abraçam, abraçam. 


2.

O Aurelino é muito baixo, as pessoas antes de o conhecer, antes de ele abrir a boca, são bem capazes de dizer entredentes ou à boca-cheia, ali vai um anão. 


E isso foi certamente difícil. 

Na sua infância obrigou-o a ir para dentro, para dentro de si próprio onde construiu um mundo paralelo onde só ele existia, ele e as coisas bonitas, o pasto, o céu azul, as vacas do campo, os ninhos de rolas. 


Na sua casa de Argivai, na Póvoa de Varzim, mais conhecida como a terra dos anjos, os pais cultivavam o silêncio e a autoridade. 


E o Aurelino, mais baixo do que os outros meninos, fazia silêncio. E pensava muito depressa e muito secretamente. 


Até que na escola primária a professora pediu-lhe que lesse. 


E foi a primeira vez que verdadeiramente se ouviu, a voz como imaginava que fosse, a que lhe saía de dentro. 


Era inteligente. 

O preferido da professora. 

Depois foi mais, chegou ao liceu da Póvoa, fez amigos, lia e escrevia. E foi para a Universidade de Coimbra, fez Direito e continuou a escrever e a ler. 


Pediam-lhe para ler nas festas, nos colóquios, nos quartos. Tornou-se uma personagem central.  


3.

Aurelino Costa acaba de editar “Casa e Logradouro”, magnífico livro que lançou nas Correntes D’Escritas. 


Lemos os poemas e deixamo-nos embalar pelo som do silêncio, da terra, do milagre das pequenas coisas, do bichinho da seda, dos juncos e dos muros, da mãe, dos mortos, do não-sentido. 


Quando o vemos, quando o ouvimos, é um gigante. 


Um gigante que nasceu na aldeia dos anjos. Um homem com olhos de criança que nos olha espantado com o milagre de estar aqui. 


Apaixonado pelas palavras e pela voz que um dia lhe saiu da garganta numa escola primária de uma aldeia em que as crianças viviam paredes-meias com vacas, bois e ovelhas. 


4.

O Aurelino Costa a quem a vida permitiu que fosse tudo o que nunca imaginara. 


Que tivesse conhecido a Isolina, que se tivesse apaixonado, e que desse espanto nascesse o maravilhoso Raul, seu filho que é hoje um dos mais aclamados pianistas portugueses. 


Raúl da Costa, filho de Aurelino, que aos 30 anos tem uma carreira internacional e toca nas melhores salas do mundo provocando “ais” de espanto pelo virtuosismo e por ser um pianista tão próximo das pessoas, tão simpático e tão espantosamente bonito.


Tal como o pai. 


4.

E posso contar-te um segredo?


No dia em que eu subi ao palco na Casa da Música estava naturalmente nervoso. 


O Aurelino entrou no meu camarim e colocou a sua cabeça na minha cabeça. E ficámos assim um bocadinho como se fosse um abraço de alma.


E disse-me:


“Luís, vai tudo correr bem. Isto é o que eu faço com o meu filho e resulta sempre”. 


Nunca me tinham feito nada de parecido. 


Nunca um anjo me abraçara antes. 


LO

A vida,,,

 ... noutros tempos, ouvi algumas vezes dizer "a montanha pariu um rato" sobre certas situações em que a promessa era uma coisa e o resultado outra coisa bem menor. Atualmente, passam-se certas situações na sociedade em que tudo nos é "vendido", é falado e é comentado como uma enormidade: fortunas,  talentos, características pessoais, enfim... vai-se a ver e... nada. É caso para dizer que "a sociedade pariu um rato".  E são tantos os ratos, atualmente...

Andava eu nestes pensamentos, enquanto colocava um reposteiro em cima dum escadote, e caem-me os óculos para o chão. Pensei, apanho-os quando descer... nunca mais me lembrei.  Desci e só ouvi o ruído deles a partirem.

Pus-lhes um pé em cima.

Moral da história, os pensamentos cinzentos nunca trazem um bom resultado.🌻🌻🌻




Céu,,,

 Céu tão lindo!

Escuro.

Nele, a lua, uma vírgula Brilhante.

E as estrelas.

Lindas as estrelas.


(Celeste Rebordão)




Poesia,,,

 E o que é a Poesia?

Será olhar a vida

Com o olhar

Da criança?

Ou olhar com o saber 

Do sábio?

Ou olhar com o pensar

Do simples?

Ou ver com a ternura

Das mães?

Ou...


Só sei que a Poesia é um sentir e um olhar diferente...

Um sentir paralelo num mundo paralelo mas nunca sem sentido.


Digo eu...



domingo, 12 de março de 2023

Carta,,,

 A carta mais linda do mundo, escrita por José Saramago para a sua avó e publicada   no jornal A Capital, em 1968 com o titulo:


Carta a Josefa, minha avó :


"Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água.


Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.


Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com  isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja.(Contaste-mo tu, ou terei sonhado que o contavas?)


Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos — e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti — e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos, realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas — e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!»


É isto que eu não entendo — mas a culpa não é tua.



sábado, 11 de março de 2023

Menos um dia,,,

 Menos um dia 

Mais uma noite

Nunca te afastes

Ó alegria!


Porque a vida

É um poema

Um poema 

A cada dia!


Mas se a tristeza

Bater aqui

Que deixe sempre

Um rasto de esperança 

E de nostalgia.

(Celeste Rebordão)




Perdas,,,

 Vão partindo

Os que nos trazem 

Conforto.

Vão indo

Os que nos trazem

Ecos.

Vão-nos deixando

Os que nos fazem

Companhia.

Vão-nos abandonando

Os que falam

O que sentimos.

Almas tão 

Parecidas 

Mas tão maiores.

Na palavra,

Na música,

Na poesia,

Nas artes plásticas,

No teatro.

Na Arte,

Em toda a sua expressão. 


Tristeza e um vazio tão cheio de saudade.

(Celeste Rebordão)




Lua Que Brilha

 Lá vai ela

Ligeira

A lua que brilha 

A lua altaneira.


Vestida de madrepérola 

Vestida de brilho

Vai ligeira 

De suspiro em suspiro.


Não se detém 

Por isto ou por aquilo

Apenas são nuvens 

Apenas é vento...


Que apenas querem 

O seu desalento.

(Celeste Rebordão)



segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Noite Apressada

 NOITE APRESSADA

David Mourão-Ferreira 


Era uma noite apressada

depois de um dia tão lento.

Era uma rosa encarnada

aberta nesse momento.

Era uma boca fechada

sob a mordaça de um lenço.

Era afinal quase nada,

e tudo parecia imenso!


Imensa, a casa perdida

no meio do vendaval;

imensa, a linha da vida

no seu desenho mortal;

imensa, na despedida,

a certeza do final.


Era uma haste inclinada

sob o capricho do vento.

Era a minh'alma, dobrada,

dentro do teu pensamento.

Era uma igreja assaltada,

mas que cheirava a incenso.

Era afinal quase nada,

e tudo parecia imenso!


Imensa, a luz proibida

no centro da catedral;

imensa, a voz diluída

além do bem e do mal;

imensa, por toda a vida,

uma descrença total!


in "À Guitarra e à Viola"