Há dias comprei um novo livro para oferecer a uma das minhas afilhadas. Era o livro que ela desejava e que já me pedia há alguns dias. Mas, ao ver o livro achei que, provávelmente, não estaria adequado à sua idade. No entanto, acabei por o adquirir. Como sempre, iniciei por lhe escrever uma dedicatória, continuo a não conseguir passar por uma folha em branco e não lhe colocar a minha marca. Creio que é de máxima importância na vida dos jovens assinalarmos os marcos importantes: era dia do seu aniversário. Depois da dedicatória, veio a ilustração. Impossível não iluminar as palavras com cores... Finalmente a entrega. A felicidade estampada no seu rosto de criança. A prenda maior, a mais intensa, foi para mim...aquela carinha radiante!
Ontem visitei-a e, lá estava o livro na pasta da escola, por entre os livros escolares...madrinha já vou aqui, e mostrou-me o que já tinha lido...imensas páginas cheinhas de, apenas, letras. Comecei a folhear o livro e esta frase chamou-me a atenção,
"A infância não vai desde o nascimento a uma determinada idade e, em determinada idade, a criança cresce e deixa-se de coisas infantis. A infância é o reino onde ninguém morre."(Edna St. Vincent Millay)
Frase que me ocupou os pensamentos durante os trinta quilómetros de regresso a casa.
A infância é o reino onde ninguém morre... Onde a vida é rainha absoluta sobre todas as coisas... onde só existe o agora, a imensidão da vida, das alegrias, dos presentes, da felicidade...
Quando a morte acontece nas nossas vidas, a infância passa e uma nuvem sombria e, ainda que muito oculta, fica para sempre na vida... Aconteceu-me isso quando perdi o meu avô paterno. Foi a minha primeira perda. Andei alguns dias, semanas, ou para sempre, com aquela falta sempre presente. Talvez, por isso, me recorde tão bem de todos os pormenores desse dia apesar da minha pouca idade... cinco ou seis anos.
Talvez a minha infância tivesse começado a parar ali...apesar de continuar a ter brincadeiras de criança... Mas a nuvem ficou, até hoje.
Quase todos os dias temos conhecimento de pessoas que se vão. Umas do nosso circulo familiar, outras conhecidas e outras que pertencem a círculos que, de uma forma ou de outra, nos dizem alguma coisa. É sempre uma perda e uma realidade assustadora com que temos de conviver...aprender a conviver...
Viver o dia-a-dia de uma forma única, verdadeira, de crescimento interior e verdadeiro na procura da nossa felicidade mas, também na felicidade do Outro deveria ser primordial no nosso horizonte de vida.
Meninices
ResponderEliminarDa nívea pele e faces rosadas,
Esgueiravam-se longas tranças alouradas,
Sacudindo as costas franzinas,
Com bonitas fitas enlaçadas.
Aos pares risadas estridentes
Envoltas em chita fresquinha
Que a mãe de mãos hábeis
De noite, ao petróleo fazia.
Sinto saudades
Dessa calçada
Calada, macia.
Pé descalço e ligeiro,
Na água de mão cheia
Que no rêgo corria.
L Silver
Tantas saudades, Cila!
ResponderEliminarDos bolinhos feitos de lama, das filhós do Natal imaginadas numa folha carnuda, arredondada duma planta qualquer! Da balança da nosso comércio feita a partir de duas caricas, dum pau e de linha...
Tantas saudades, dos nossos risos, das nossas lágrimas, das nossas brincadeiras...dos cavalos, dos patinhos, dos cachorrinhos...da fatia de pão buscada à pressa para que se não perdesse um segundo da brincadeira. Da água aquecida ao sol, nos dias de verão, e do banho tomado numa loucura de felicidade em total harmonia com a natureza.
Da fruta colhida, no momento, da árvore... do nosso corpo infantil, nú, decorado com o roxo das amoras...
Tantas, tantas, tantas saudades!