Sou como todas as pessoas sensíveis ao que as rodeia... Adoro as pessoas, adoro a natureza, adoro os animais... Gosto de música... Mas o que mais prezo é a minha família e os meus amigos e a natureza e os animais... Eheheh. Antes que me esqueça, adoro qualquer forma de demonstração de Arte: pintura, arquitectura, escultura, poesia...
sábado, 30 de outubro de 2010
A criança que habita em todos nós...
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
As Misericórdias nas Sociedades Portuguesas do Período Moderno
Nos finais do século XV, num clima de maior estabilidade político-social e económico, graças à expansão marítima que trouxe riqueza e consequentemente um poder régio mais centralizado, assistiu-se à Reforma da Assistência Social com a criação das Confrarias, entre elas as Misericórdias. O Estado passou a ter um papel interventivo e legislativo na prestação da Assistência por parte das Misericórdias.
Da assistência individual e caritativa até ao nascimento das confrarias
Até ao séc. XIII a ajuda aos necessitados era desempenhada fundamentalmente pela Igreja e por particulares com mais posses. Viviam-se tempos de grande tormenta devido às guerras, à fome e às doenças, levando à pobreza extrema. Era fundamental, acreditar num futuro melhor, o que permitiu à Igreja, através do auxílio prestado, adquirir poder quer na vida quotidiana da sociedade quer na vida política. A Igreja incutia na sociedade a prática da caridade como forma de obter o perdão dos pecados e alcançar a vida eterna. Mas nem todos os necessitados eram considerados merecedores de ajuda sendo excluídos pela população (prostitutas, judeus, mouros e actores…).
A partir do século XIII, a assistência primária mostrou-se insuficiente e incapaz de dar resposta a todos os que dela necessitavam, devido ao aumento populacional do meio urbano. As lutas, entre os senhores feudais e os camponeses, provocadas por maus anos agrícolas, fez com que estes se dirigissem para os meios urbanos em busca de melhores condições de subsistência, transformando a pobreza urbana numa pobreza endémica. Neste contexto surgem as albergarias, nos pontos de maior passagem, que aliviavam os peregrinos e viandantes das mazelas provocadas pelas grandes caminhadas, assim como os hospitais, que recebiam pessoas por tempo limitado (dois e três dias), dando-lhes abrigo e alimento para o corpo e para a alma.
Neste período de fraca produção agrícola, de desvalorização monetária e em situações de doença e de velhice, houve muita gente honrada que também caiu em “desgraça”, foram designados por “pobres envergonhados”. As Mercearias surgem neste contexto por acção régia de D. Dinis e, sobretudo, de D. Afonso IV e de sua mulher, D. Beatriz. Estas eram hospitais ou albergarias que tinham como finalidade receber homens ou mulheres pobres de grupo social médio sendo esta característica a que as distinguia dos demais.
Devido ao surto da lepra criaram-se as Gafarias para acolher e guardar as pessoas atingidas pela doença. Localizavam-se fora dos centros para evitar a propagação da doença e eram dirigidas por pessoas portadoras deste mal. A lepra atingia pessoas de todas as classes sociais.
Como as instituições existentes não conseguiam fazer face ao aumento significativo do número de pessoas pobres, com todo o tipo de carências associadas, surgem as confrarias, entre elas as Misericórdias que usufruiriam de privilégios régios.
As confrarias podiam estar ligadas à devoção a santos ou então eram constituídas por membros com o mesmo ofício (alfaiates, sapateiros, artesãos…) e tinham como objectivo prestar auxílio a todos os que, tendo o mesmo ofício, necessitassem de ajuda. Posteriormente esta ajuda foi alargada a todos, independentemente da profissão. Estas comunidades não tinham qualquer tipo de apoio do Estado, eram instituições autónomas. Criaram alguns hospitais e albergarias espalhados por vários locais com o objectivo de alargar a sua acção caritativa. Ligadas aos princípios cristãos e às festas do seu patrono retinham elevado valor.
Nos finais do séc. XV, com a progressiva consolidação do Estado e com as alterações que se efectuaram na sociedade portuguesa, assistiu-se a uma reforma na assistência. Até então o rei era muito influenciado pelos senhores feudais e o Estado encontrava-se muito fragmentado. Após a reconquista houve que organizar o território (só irá terminar no séc. XVIII). Assiste-se a uma progressiva complexificação da máquina do Estado e à centralização do poder no rei: o rei passa a controlar todos os aspectos da vida do reino. O acto assistencial passa a ser encarado como uma função do poder central do estado em prol da comunidade. Por outro lado a esmola mostrava-se incapaz de resolver todas as situações resultantes dos novos tempos.
A partir do reinado de D. Manuel, Portugal assistiu a um crescimento económico graças ao enriquecimento da Coroa, proporcionado pelos rendimentos da Expansão Portuguesa e pela expulsão dos judeus e mouros e da, consequente, apropriação dos seus bens. Este enriquecimento fortaleceu Portugal economicamente e politicamente perante o olhar europeu. Mas com a expansão assiste-se á saída de pessoas para as novas colónias, sobretudo homens jovens, que deixam a esposa, os filhos e os familiares idosos dependentes, sem meios de subsistência, conduzindo a um novo tipo de pobres, os pobres sedentários. As gafarias, os hospitais e as mercearias sobreviviam das esmolas e doações das pessoas com mais posses e não conseguiam dar resposta a tantos necessitados. A concentração urbana no litoral e ao redor de Lisboa aumentava desmesuradamente conduzindo a uma pobreza endémica. Assiste-se à alteração da conjuntura social e, também, à alteração da mentalidade das pessoas. Os pobres são avaliados por uma perspectiva diferente: as pessoas que não trabalham por serem preguiçosas passam a não ser ajudadas. As esmolas diminuem.
D. Leonor, viúva do rei D.João II e irmã de D. Manuel, juntamente com o Conde de Alpedrinha, criaram a primeira Misericórdia em Lisboa , em Agosto de 1498, na Sé Catedral, seguindo o modelo europeu.
D. Leonor, mandou construir, às suas expensas, o Hospital das Caldas, que irá servir de modelo aos Hospitais Reais, criados posteriormente, com a função de tratar os doentes. As Misericórdias são confrarias na medida em que os elementos que as compõem partilham da mesma ideologia religiosa (cristãos leigos) e têm a mesma motivação, ajudar quem necessita. Têm de possuir uma conduta irrepreensível e serem equilibrados psicologicamente. Inicialmente para se ser irmão da misericórdia, a condição primordial era ser baptizado. Para além disso, os irmãos não têm qualquer objectivo lucrativo ao integrarem uma misericórdia já que pertencem às elites detentoras do poder local.
Com o passar do tempo as condições para se ser irmão da misericórdia vão sendo alteradas. Vai-se observando uma restrição aos indivíduos que pretendem integrar as confrarias, pelo compromisso de 1516 bastava apenas ser-se baptizado, o compromisso de 1577 os cristãos-novos foram afastados e o de 1618 formalizava novas condições de acessibilidade. As mulheres também podiam integrar as misericórdias mas nos finais do século XVI a sua participação foi-lhes vedada, de acordo com a mentalidade da época, em que eram consideradas apenas como mães e esposas, logo o seu lugar confinava-se ao lar. Havia, ainda, uma separação dos membros em duas categorias distintas, os que dirigiam e os que executavam as tarefas consideradas inferiores. Ou seja, havia um grupo subalterno de irmãos de menor condição que realizavam tarefas consideradas indignas, como fazer compras ou carregar objectos em público, enquanto o outro grupo era constituído por pessoas de prestígio, os nobres.
Cabia ao Provedor atribuir as funções aos Mordomos.
As Misericórdias baseavam a sua acção em catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais, que são discriminadas no Compromisso, documento que dá origem à fundação de uma misericórdia. No Compromisso da Misericórdia de Lisboa constavam as seguintes obras de misericórdia:
Obras espirituais:
- Ensinar os simples;
- Dar bom conselho a quem o pede;
- Castigar, com caridade, os que erram;
- Consolar os tristes;
- Perdoar a quem errou;
- Sofrer as injúrias com paciência;
- Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Obras corporais:
- Libertar os cativos e visitar os presos;
- Curar os enfermos;
- Cobrir os nus;
- Dar de comer aos famintos;
- Dar de beber a quem tem sede;
- Dar pousada aos peregrinos e pobres;
- Enterrar os finados.
Este compromisso serviu de base aos compromissos das misericórdias que iam surgindo por todo o reino.
A expansão das misericórdias, por todo o reino, deve-se ao rei D.Manuel I que se desdobrou em acções em prol destas, enviou funcionários com a incumbência de promover a sua fundação em todas as cidades do reino e, ainda, escreveu às Câmaras a solicitar a criação da confraria. A cultura da caridade era uma característica da Casa Real Portuguesa.
“Juízes, Vereadores, Procurador, fidalgos cavaleiros e homens bons Nós El-Rei vos enviamos muito saudar. Cremos que que sabereis como em esta cidade de Lisboa se ordenou uma confraria para se as obras de misericórdia haverem de cumprir, e especialmente a cerca dos presos pobres e desamparados que não têm quem lhes requerem seus feitos nem socorra as suas necessidades e assim em outras muitas obras piedosas segundo mais largamente em seu Regimento se contém […] e porem vos encomendamos que considerando quanto isto é serviço de Deus vos queirais juntar e ordenar como em essa cidade se fizesse a dita confraria…”
Até ao final do reinado de D. Manuel existe documentação que comprova a criação de 42 misericórdias, entre elas a de Castelo Branco que surgiu nos dois últimos anos de reinado de D. Manuel (1520 e 1521).
A implantação relâmpago de misericórdias no reinado de D. Manuel, bem como a atribuição a estas de um leque de competências alargado, transforma-as nas confrarias mais poderosas de Portugal ao longo da Idade Moderna, o que a curto prazo ao esgotamento das funções das outras confrarias.
Isentar, privilegiar e beneficiar eram o modus operandi régio.
Em 1496, D. Manuel expulsa os judeus de Portugal e os bens confiscados são usados no financiamento de misericórdias e de hospitais.
Com o decorrer do tempo as misericórdias foram acumulando privilégios: os peditórios passam a ser feitos apenas pelas misericórdias e os bens deixados em testamento à Igreja foram direccionados para as misericórdias, como resultado do pedido efectuado pelo Rei ao Papa, assim como os enterros que passaram a ser realizados apenas pelas misericórdias (visto serem apenas estas a possuírem mobiliário fúnebre).
Isto vai levar ao acumular de um património enorme e, por conseguinte, ao aumento do seu poder social, económico e político, particularmente a partir do século XVII.
As Misericórdias eram muito respeitada por todas as classes sociais, principalmente pelo povo, pois atribuíram dotes para as raparigas órfãs e pobres, ajudavam ainda os pobres envergonhados, faziam doações para os doentes pobres dos hospitais, davam dinheiro para ajudar a resgatar cativos de guerra religiosa ou até simples presos das cadeias.
Também o clero e a nobreza se socorreram das misericórdias em horas de aperto sendo-lhes concedidos empréstimos a troco de juros, o que veio a rentabilizar o dinheiro emprestado, sendo este posteriormente direccionado para a caridade, o que justificava a prática da usura, condenada pela Igreja. Foi uma forma de se conseguir ajudar um maior número de pessoas com os lucros desta prática. No entanto, mais tarde, irá ser um factor para a decadência das misericórdias, visto muitos dos empréstimos nunca serem recuperados o que fez com que o capital das misericórdias diminuísse e, consequentemente, a confiança que as pessoas depositavam nelas.
A partir do século XVI a administração dos hospitais passa a ser efectuada pelas Misericórdias, o que vai levar a um aumento das despesas, na medida em que a sua manutenção requer avultados gastos. Esta situação, aliada aos empréstimos efectuados e não recuperados, provocará a falência de algumas misericórdias e o enfraquecimento de outras.
As misericórdias entram em crise e a capacidade de cumprir a sua principal função, a assistência aos necessitados, torna-se limitada.
Com o absolutismo, e com a entrada do Marquês de Pombal na vida política e legislativa do reino, a situação das Misericórdias torna-se ainda mais precária porque este faz a separação entre o Estado e a Igreja. Os benefícios atribuídos pelo rei a estas irmandades deixaram de existir. Contudo, as misericórdias conseguiram sobreviver até aos nossos dias e actualmente continuam a ter um grande papel social e económico.
Conclusão:
Em suma, as Misericórdias cumpriram a sua principal função, pôr em prática o Compromisso, como irmandade unida pela fé e pelos mesmos objectivos. Todos os necessitados de ajuda corporal ou espiritual encontraram nas misericórdias a resposta à maioria dos seus problemas.
Apesar de ter passado por momentos instáveis, desde o seu aparecimento e até aos nossos dias, a assistência social tem sofrido transformações sempre numa tentativa de solucionar problemas sociais e económicos. Hoje, como forma de travar o aparecimento de problemas sociais, aposta-se sobretudo na prevenção.
É relevante focar que a caridade não deve ser realizada como um meio para alcançar outros fins, como acontecia nestas épocas. A ajuda ao próximo é, sem sombra de dúvidas, um dever de todos nós, independentemente da religião, da cor e do género.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Ser Madrinha ...
Que os teus olhos se tornem
mais brilhantes do que sempre,
de alegria e de contentamento,
e o teu sorriso, tão lindo e cativante,
ecoe em gargalhadas de felicidade...
Que a tua voz vibrante, meio rouca
embargada de emoção
a cada abraço recebido
demonstre a satisfação
de ter tanto carinho...
Que o teu coração sempre se enterneça
pois sabe o valor da amizade...
Que no teu corpo vibre a saúde,
a energia, a vida...
E que a tua alma fique iluminada
com as bênçãos do amor
que TU mereces.
Feliz Aniversário!
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Fim de tarde albicastrense com bailado...
Para a minha afilhada linda, Francisca.
A Bela Adormecida
Era uma vez um rei e uma rainha que não tinham filhos.Quando nasceu uma filha ficaram radiantes. Os reis fizeram uma grande festa para comemorar o nascimento da menina.Convidaram todas as pessoas do reino e principalmente as dozes fadas que concediam dons às crianças. Durante a festa as doze fadas deram à menina o poder da beleza, bondade e da riqueza Quando a décima primeira fada concedeu a sua dádiva ouviu-se um grande estrondo. Tinha chegado a décima terceira fada que não tinha sido convidada para a festa. Muito zangada por não ter sido convidada para participar na festa, a fada má, deu uma prenda à princesa. Quando esta fizesse quinze anos iria picar-se numa roca e morreria. Só que no meio daquele reboliço a décima segunda fada ainda não tinha dito qual seria a sua prenda. Sabia que não podia retirar a maldição da outra fada mas, podia torná-la mais suave. Disse então que a princesa iria picar-se na roca, mas não morreria. Em vez disso iria dormir um sono de cem anos. E assim foi, a princesa cresceu e tornou-se numa jovem bonita e bondosa. Mas na manhã do seu décimo quinto aniversário, a princesa levantou-se cedo e foi passear pelo reinado, quando viu uma luz brilhante. Cheia de curiosidade, subiu umas escadas e abriu uma porta. Do outro lado da porta estava uma senhora muito velha sentada a fiar. A menina teve ainda mais vontade de ver de perto o que era aquilo e perguntou se podia experimentar. Mas mal pôs o dedo na roca picou-se e adormeceu. Nesse preciso momento todo o reinado adormeceu. Passados cem anos,um princípe passava ali perto do castelo e reparou que os muros estavam cobertos de folhas. Cheio de coragem, o príncipe arriscou passar pela sebe que tapava o castelo e nesse preciso momento as folhas encheram-se de flores e o caminho abriu-se. Este ficou muito admirado ao ver toda gente a dormir dentro do castelo, até que reparou numa menina que estava adormecida. Olhou para ela e ficou logo apaixonado pela sua beleza.Inclinou-se e beijou-a. Ao fim de tantos anos a princesa abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi a beleza do príncipe. Lentamente, todas as pessoas do reino abriram os olhos. Pouco tempo depois, o príncipe e a princesa casaram e o rei deu outra grande festa,só que desta vez teve muito cuidado com as pessoas que convidou.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Serviço Social - génese, emergência e institucionalização
O Serviço Social tem, na sua origem, a marca profunda do capitalismo.
Até finais do Séc. XIX, a prática da assistência era, somente, uma expressão pessoal de caridade ou um eventual produto de uma motivação religiosa mas, com a criação da Sociedade de Organização da Caridade, pretendeu-se manter a distância destas práticas feudais e pré-capitalistas e apresentar uma nova abordagem da “questão social”. A sua principal intenção era marcar de forma inconfundível a acção dos filantropos ou reformadores sociais.
A conjuntura histórica mundial, marcada por crises internas e por conflitos políticos, originavam tensões sociais. O proletariado andava contrariado com a classe Burguesa devido aos baixos salários e às precárias condições em que trabalhavam. A Burguesia necessitava da mão conciliadora de profissionais com conhecimentos em relações humanas e sociais.
Devido a esta conjuntura, em que havia a necessidade de uma estratégia de controlo social, desde o inicio do Séc. XX, a prática da assistência caminhava em direcção à profissionalização. Tal facto deveu-se aos esforços da Sociedade de Organização da Caridade e ao empenho pessoal de Mary Richmond.
Foi de extrema importância para a sistematização, profissionalização e institucionalização do Serviço Social.
Na Alemanha, em Berlim, a primeira escola é fundada em 1908.
Na França, em Paris, criam-se mais duas escolas: uma em 1911, de orientação católica e outra em 1913, de orientação protestante.
Em Portugal, só em 1937, em Coimbra, é criada a segunda escola de Serviço Social, a Escola Normal de Serviço Social, hoje Instituto Superior de Serviço Social de Coimbra. Mas a institucionalização do Serviço Social Português ocorre, apenas, durante o período da Segunda Grande Guerra. Até esta altura o serviço social era visto apenas como mediador de conflitos, no quadro do desenvolvimento capitalista. A partir da 2ª Grande Guerra, criaram-se mais escolas, integraram-se os Assistentes Sociais nos serviços públicos e o Estado Novo adoptou uma nova postura na política social.
No final da 2ª Guerra Mundial encontravam-se a funcionar cerca de duzentas escolas espalhadas pela Europa, Estados Unidos e pela América Latina onde foram criadas a partir de 1925.
Factores que ditaram o aparecimento tardio do Serviço Social em Portugal
A partir da implantação do Liberalismo, o Estado manteve o controlo da Igreja numa tentativa da laicização da sociedade portuguesa. O Estado pretendia superar e substitur a religião em todas as dimensões: cultural, institucional e sociabilitária. O laicismo era defendido pelos grupos de livre-pensadores, pela maçonaria, pelos movimentos republicano, socialista e anarquista que lutam pela separação das Igrejas do Estado. Em 1911, após a Implantação da 1ª Republica, é decretada a separação do Estado das Igrejas.
Mas, no período da Ditadura Militar (1926-1933), é reconhecido, de novo, à Igreja, a liberdade de ensino religioso. Mais tarde, o Estado-Novo alia-se à Igreja , opondo-se ao processo de laicização e, consequentemente, virando costas a uma sociedade moderna, construída nos principios da racionalidade, do individualismo e da democracia que a República tinha tentado construir.
A génese, a emergência e a institucionalização do Serviço Social Português vai ser determinado pelas relações Estado-Igreja e da confluência destes dois processos de sentidos opostos: a Questão Social e a Questão Religiosa. É sob os valores da Igreja, da sua doutrina social, da Acção Católica Portuguesa e do Corporativismo que surge a institucionalização do Serviço Social Português, a criação de escolas, a formação nelas ministrada e a abertura do mercado de trabalho às Assistentes Sociais. Não nos podemos esquecer, em todo este processo, da situação das mulheres portuguesas, qual o seu protagonismo e os Movimentos de Mulheres Católicas e de Feministas.
Nos Estados Unidos, Canadá e Brasil, entre outros, esta situação já foi alterada há algumas décadas mas, em Portugal, isso só aconteceu a partir dos meados dos anos 80 quando a licenciatura foi reconhecida e a investigação surgiu como uma componente integrante da formação.
A criação das Escolas de Serviço Social ocorreu ainda durante o regime salazarista, mas tudo o que se conhecia até ao 25 de Abril de 74, sobre a sua criação e qual a formação nelas conferida, era feito apenas por pessoas externas à profissão, como médicos e juristas, geralmente só homens, que acompanharam ou participaram na institucionalização do Serviço Social Português. O primeiro curso de Mestrado em Serviço Social surge em 1987 e aqui dá-se uma estreita relação entre investigação académica e serviço social já que a história da profissão se constitui objecto de investigação.
Conclusão:
Foi um longo processo mas, todos nós agentes de mudança, devemos orgulhar-nos da nossa profissão já que ela é fundamental no equilibrio dum país. Deve ser exercida de forma consciente e conhecedora porque é fonte de mudança e de bem-estar.
Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
(António Gedeão)