sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Manhà de OutonO


Manhã de outono
Manhã brilhante
De sol estonteante
Mas fria
De um vento gelado
Que soprava
Como que enfeitiçado

Entrei
Procurando abrigo
Cabelos em desalinho
Rosto ruborizado
Do vento amado
Aconcheguei-me
Na mesa silenciosa
Num canto anichado

Olhei em redor
Procurando vida
Vida conhecida

Lá estavam eles
Numa mesa vizinha

Ela falava
Agitada
Ela falava
Falava
Sem parar
Misturando risos
Gargalhadas
Brilhos no olhar
Tentando cativar

Ele fingia ouvir
Parecendo concordar
Olhar distraído
Triste
Sem brilho
Fugidio
Sorrisos forçados
Palavras lacónicas
Cabeça a acenar

Mas ela ria e ria
Contava e recontava
Remexia na carteira
Fotos a procurar
Tentando enfeitiçar
Encostava-se a ele
Pernas a roçar
Procurava-lhe a mão
Mãos escondidas
Escondidas do olhar

Ele fingia
Fingia ouvir
Olhar perdido
Num rosto qualquer
Tentando encontrar
Aprovação
Na multidão
Tal animal enjaulado
Numa prisão

E ela ria
Continuava a rir
Abraçou-lhe o pescoço
Beijou-lhe a face
Ele fingia retribuir
Mas o olhar
Ah! Esse continuava
A fugir

Fechei os olhos
E ficcionei
O que se passaria a seguir
Ele olhava-a com pena
Um outro rosto
No dela revia
Traidor
Mentiroso
Infiel
Que tudo lhe prometia
E decidido
Levantava-se
E saía
Libertado
Lavado
 Para o vento gelado


E ela ficava
Orgulhosa
Corpo direito
Olhar vazio
E depois de algum tempo
Saía arrogante

Mas isso aconteceria
Num conto meu
A realidade era outra
À frente do olhar
Aberto
Discreto
Meu

Ela continuava a rir
A rir sem parar
E ele fingia
Fingia ouvir
E ele fingia
Fingia sentir
E fingia
Deixar-se levar
Tal como a borboleta
Atraída pelo brilhar
Do candeeiro
E as asas queimar


E quem saiu fui eu
De volta aos braços
Do vento gelado 
Do sol amado

(Celeste Rebordão)

Sem comentários:

Enviar um comentário