sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Telescola






Após terminar a Escola Primária, com apenas dez anos, em 1972, iniciei o 1º Ano do Ciclo Preparatório TV. Foi uma experiência enriquecedora e cuja aprendizagem ainda hoje recordo com alguma nostalgia. Assistiamos às aulas, que eram orientadas por um monitor, completamente em silêncio. Todas as disciplinas eram apresentadas com rigor e guardo na memória o nome de alguns professores que nos ensinavam através do ecrã de televisão. A Manuela Melo, com a sua voz suave e grande capacidade de nos prender a atenção, foi um deles.
Declamava poesia com uma leveza que me envolvia profundamente.

A telescola, sistema de ensino via televisão, arrancou em Portugal a 6 de Janeiro de 1965, com programação produzida nos estúdios da Radiotelevisão Portuguesa do Monte da Virgem, no Porto. Os alunos eram acompanhados nos postos de recepção por monitores. A intenção era permitir o cumprimento aos alunos da escolaridade obrigatória, na altura constituída pelos quatro anos da Escola Primária e os dois Ciclo Preparatório. A nível geográfico a telescola pretendia servir as zonas rurais isoladas e zonas suburbanas com escolas superlotadas. Nesta época, havia cerca de mil alunos matriculados, mas toda a população tinha acesso através da televisão às emissões que ocupavam parte da programação da tarde da RTP. A telescola portuguesa foi uma das mais bem sucedidas na Europa. No início da década de 70, a reforma do ensino ditou o alargamento da escolaridade obrigatória para oito anos. Nos casos em que não fosse possível proporcionar ensino directo aos alunos este podia ser substituído pela telescola. Na década de 80, com a chegada e vulgarização dos videogravadores, a telescola deixou de ser transmitida pela televisão, libertando assim essas horas para outros programas. Os conteúdos apresentados nas videocassetes tinham um complemento de informação prestado por um tutor.



Quero aqui prestar homenagem a todos os professores e monitores que preencheram o meu ensino, nesses dois anos, mas que foram mais além porque me inculcaram a vontade de saber mais , me alargaram horizontes e me mantiveram a chama acesa da curiosidade até hoje.



Terminei a Telescola com doze anos, em 1974. Ano da Revolução dos Cravos. Seguiram-se tempos conturbados mas na nossa cabeça de pré-adolescentes não existiam medos nem a noção do que se passava no país. A verdade é que os meus pais não permitiram que continuasse os estudos em Castelo Branco. Até aos dezasseis anos permaneci na minha aldeia. Li tudo a que tinha acesso. Foram anos de outra aprendizagem. Mas a insatisfação era constante e um dia vim matricular-me na Amato apenas com o consentimento da minha mãe. O meu pai soube na véspera do início do ano escolar. Ficou em silêncio a olhar-me. No entanto, ficava extremamente orgulhoso quando lhe mostrava as notas que ia obtendo... Obrigado Pai, obrigado Mãe... Só damos valor ao que nos custa a atingir e todos os conhecimentos são fruto de aprendizagem.

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