terça-feira, 27 de julho de 2010

Florbela Espanca






Rámon Crespo


Para a minha amiga Telma Henriques, grande coração num sorriso lindo...


Florbela Espanca (poetisa lusa, três casamentos falhados e muitos amores)


Poetisa: 1894 – 1930


Vila Viçosa, final do ano de 1894, noite de sete para oito de Dezembro.


Antónia da Conceição Lobo sente as dores do parto. Nasce uma menina. Não vem ao encontro das alegrias da família. Não há assim lugar ao habitual regozijo de tais momentos. Não parece ter sido desejada por qualquer das partes. É baptizada como filha de pai incógnito. Avôs e avós também incógnitos. É-lhe posto o nome de Flor Bela de Alma da Conceição. Na literatura portuguesa será chamada Florbela Espanca. Apelido que receberá do pai, João Maria Espanca, já então levantado o véu encobridor. Curiosamente, o padre que a baptiza e a madrinha usam o mesmo apelido.
A mãe morre algum tempo depois.
Tem infância sem falta de carinhos e a sua subsistência não será ensombrada por insuficiências que atingem muitas das crianças que nascem em circunstâncias semelhantes.


" As almas das poetisas são todas feitas de luz, como as dos astros: não ofuscam, iluminam...."


Os seus três casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas em geral e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem a ligavam fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra.

O Coração dos Poetas
 



O nosso mundo

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...

Que importa o mundo seus orgulhos vãos?...

O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...



Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

A essa hora dos mágicos cansaços,

Quando a noite de manso se avizinha,

E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha

A tua boca... o eco dos teus passos...

O teu riso de fonte... os teus abraços...

Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,

Traça as linhas dulcíssimas dum beijo

E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...

Quando os olhos se me cerram de desejo...

E os meus braços se estendem para ti...

~

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...

Como se os dois nascêssemos irmãos,

Aves, cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!..Que fantasia louca

Guardar assim, fechados, nestas mãos,

Os beijos que sonhei pra minha boca!...

O que fica é a voz poética da "alma gémea" de Fernando Pessoa, autêntica, feminina e pungente:

Eu quero amar,

amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele,

o Outro e toda a gente...

Amar! Amar!

E não amar ninguém!




Para um grande amigo, Álvaro Espadanal, como agradecimento pela exposição maravilhosa que me emocionou...em especial, Peter and the Wolf...Pela Pessoa atrás do Artista...
" O artista é um criador de coisas belas."
"O artista nunca é maldoso. O artista pode expressar tudo."
( O Retrato de Dorian Grey, Oscar Wilde)



1 comentário:

  1. obrigada amiga,do fundo do coraçao,foi das melhores prendas que ja me ofereceram....e sobretudo obrigado pela homenagem a essa grande Mulher. obrigado pela tua amizade e nunca mudes,es maravilhosa. beijao

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