Como se transforma um momento difícil, sombrio numa tarde agradável, cheia de memórias e de afetos em cada olhar, em cada palavra vinda do coração... Basta deixarmo-nos levar sem pensar...conduzir, seguirmos o rasto do cheirinho de quem nos aguarda ainda que não nos espere. E assim aconteceu... Deixei-me levar sem pensar.
Família, colo dos afetos, sempre
Lá estava Ela vestida de sorriso Feliz, a mana mais velha, toda ela Luz. Lá estava ele, companheiro da vida, feliz pela surpresa.
E as horas passaram sem se sentirem e as palavras brotaram, suaves,,, cada gesto um gesto de amor. E vieram as memórias que nos perpetuam como família. Que nos unem como um coro harmonioso, como uma orquestra afinada,,, cada um com o seu instrumento tão diferente mas que em conjunto fazem soar uma melodia equilibrada, cheia de ternura.
E as emoções sucedem-se e transformam-se. Criam-se imagens do que nos contam e não vivemos e parece que também nós estivemos lá, mesmo não estando. E vamos misturando as nossas memórias com as dos demais... Cada uma vivida de forma diferente, porque diferentes somos quer pela idade em que se experienciou quer pela forma única de sentir de qualquer ser.
E basta-nos isso para chegarmos ao êxtase da vida em comunhão... e a vida parece tão fácil, tão leve... E todos nós somos luz, todos nós nos sentimos envolvidos por uma aura que nenhuma força exterior conseguirá penetrar,,,
Quem me dera que assim fosse...
A D. Ália e o senhor Alexandre eram um casal peculiar que vivia numa casa de sonho, com muitas plantas e extremamente confortável há cinquenta ou mais anos. Casal que vivia de forma desafogada graças às heranças da família abastada e de nome. (Eram parentes da Família Cunha. Os Cunha eram família brasonada, nobre).
Viviam no "cimo de vila", como nós chamamos ao lugar mais alto da Vila. Casal sem filhos, casal onde se sentia comunhão, casal com muito amor para dar. Ele alto, magro, de óculos na ponta do nariz. Ela roliça, pele alva e rosada, de sorriso que a envolvia sempre. Ternos no trato com os demais, suaves no estar e no falar. A Menina visitava-os com frequência e quando Ela chegava eles ficavam muito, muito felizes. E nos dias mais frios, todos eles sorrisos e ternura, diziam-lhe: senta-te aqui ao pé de nós, Luzinha, para ficares quentinha. E a Luzinha ficava e ouvia-os encantada e via-os maravilhada... ELA bordava ponto de cruz e ELE fazia crochet...casal peculiar (???).
Haverá maior riqueza do que lidar com a DIFERENÇA(?) desde muito novo? Haverá maior riqueza do que aceitar essa "diferença", como muitos apelidam, com naturalidade, desde criança?
Eu imagino o cenário fascinada... e também eu estou lá, na sala quentinha, ouvindo e observando a menina e o casal...
Somos todos iguais, somos todos diferentes e é tão rica a VIDA assim...
Como já repeti tantas vezes, tivemos uns pais extraordinários. Que nos incutiram, pelo exemplo, em não rotularmos quem quer que fosse, em não discriminarmos quem quer que fosse. Infância rica em relacionamentos mas, e sobretudo, pela aprendizagem de ser PESSOA.
Obrigada Luzita!
Bem haja, D. Ália e Senhor Alexandre por deixarem uma pegada nos nossos corações e nos nossos pilares de vida em construção.
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