Há acontecimentos que nos levam a refletir, não no momento em que ocorrem mas mais tarde quando o pensamento está livre e nos trás o que aconteceu ao longo do dia. Geralmente, o pensamento traz-nos as memórias que mais nos marcaram, por um motivo ou por outro.
Foi o que me aconteceu uma noite destas, ao recordar a conversa que tive com uma amiga sobre o espancamento que envolveu os jovens filhos do Embaixador Iraquiano no nosso país e jovens portugueses. Mas a conversa veio-me à memória não pela violência utilizada que deixou em tão mal estado o jovem (Rubem) português de quinze (15!!!) anos, não pela frieza de tanta violência física reveladora de que os espancadores não tiveram qualquer tipo de humanidade pelo espancado (como se não estivessem a espancar uma vida, um ser igual a eles mesmos!!!!!!) não pelo álcool facilmente adquirido e consumido sem respeito pela lei (jovens 15 e 17 anos), não pelo carro conduzido por um menor (sem respeito pela lei), não por pais de jovens adolescentes permitirem que os filhos andem livremente pela noite dentro...
A conversa não me veio à cabeça por esses motivos porque já anteriormente tinha refletido, imenso, sobre toda a envolvência e horror dessa tragédia perdida numa noite de Ponte de Sor.
Recordei a conversa devido à dificuldade que senti durante esse diálogo (em que outros temas sociais da atualidade surgiram naturalmente) em articular a palavra "xenofobia". Dificuldade física não mental.
Foi fácil concluir que tal dificuldade se deveu à falta de "ginástica oral" causada por passar os dias numa quase solidão voluntária, em que raramente saio para me encontrar e conversar com alguém ou encontro pessoas com quem abordar estes temas... Debato-os de mim para mim, num monólogo mental. Leio, informo-me sobre o que me rodeia, ouço, reflito imenso (como todas as pessoas) e o pensamento não pára e todas as palavras fluem livremente e facilmente no mental. Mas articulá-las oralmente também deve ser praticado!!! Tenho de começar a falar sózinha e em voz alta!!!
Eheh.