Ontem, bem pela manhã, fui passear o
meu cão como é habitual. Como todos os dias, encontramos pessoas que
passeiam com os seus cães ou que se passeiam a si mesmas, numa comunhão
com a natureza já desperta. A calma e a fresca convidam ao relaxamento
nos bancos de madeira que descansam e nos aguardam à sombra de palmeiras que se agitam e emergem
duma relva ainda verde. Tudo é paz nestes momentos e o planeta e a vida
parecem em equilíbrio e, por momentos, quase nos esquecemos de todas as
más notícias que nos assolam a cada dia quer sobre o comportamento do
Homem (desumano, corrupto e irresponsável) quer sobre os perigos a que
sujeitamos o nosso planeta.
Ontem, bem pela manhã sentei-me num
desses bancos de madeira onde já estava um senhor com alguma idade com a
sua cadelinha, esta já também com alguma idade. Sentei-me porque, ao
aproximar-me, perguntei a este senhor se o seu companheiro era um cão ou
uma cadelinha, visto que entre cães o relacionamento por vezes torna-se
um pouco violento. E, foi este início de conversa que deu lugar a
outra,,, mais enriquecedora, muito mais enriquecedora.
Sentei-me e o senhor (octogenário)
disse-me que a sua cadelinha já tinha treze anos e que ainda no dia
anterior tinham feito uma caminhada de seis quilómetros até à zona de
lazer. Sentei-me e o senhor continuou a falar e eu a ouvir e "de olho"
no meu cão que brincava com a cadelinha... Respondi-lhe que tinham feito
uma grande caminhada e ele continuou com as suas palavras firmes mas
calmas, num tom ameno...Contou que tinha necessidade de praticar
desporto. Contou que todos os dias utilizava os equipamentos (para a
manutenção física) disponíveis num relvado um pouco mais abaixo do local
onde nos encontrávamos... Contou que tinha vindo para a nossa cidade
nos anos oitenta e que tinha corrido meias-maratonas na juventude.
Foi então que contou dois episódios
ricos e que dizem tudo sobre o que é viver em reflexão e em sabedoria. O
que é aprender... o que é ser pessoa... Sem o mediatismo e a fama de
redes sociais...
Contou que sempre teve cães e gatos
mas que um dia, na sua aldeia natal, lhe envenenaram todos os animais.
Fiquei escandalizada e perguntei-lhe qual tinha sido a sua atitude
perante tal acto de maldade... Mas ele continuou calmamente "quem não
gosta de animais também não gosta de pessoas" e eu, levianamente,
retorqui "pois, o melhor é o desprezo por pessoas assim" e ele
sábiamente disse "não. Temos de fazer ver às pessoas qual é o caminho do
bem. Não devemos
desprezar, devemos continuar ". Depois contou que costumava correr todas
as manhãs e fazia sempre o mesmo percurso e que um dia, já há largos
anos, numa dessas manhãs cruzou-se com amigos sentados numa sombra duma
esplanada e que ao vê-lo sorriram com ironia e disseram "és mesmo maluco
para andares nessas correrias" e ele sorrindo e sem parar disse-lhes
"aqui ao meu lado há lugar para mais", e continuou sempre até hoje a
fazer o que o físico e a mente lhe pedem.
Obrigada!!!
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