segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Mágoa...



Mágoa...


Herman Hesse escreveu: “Alguns de nós pensam que aguentar nos faz fortes. Mas às vezes, é desistir.”


Estava embrulhada nos meus pensamentos, no silêncio e semi-penumbra do meu quarto, quando a palavra surgiu como vestida de luz, após uma situação menos boa da qual resultou este sentimento, que de início não identifiquei... Surgiu límpida como a luz que atravessa os furinhos da persiana... O meu coração estava envolto em mágoa... 

Uma dor constante vestida de tristeza... Originada por palavras cruéis, difíceis de entender pela pessoa que sou e procuro ser. Já se passou um dia e uma noite de insónia mas a dor lancinante inicial misturada de incredulidade foi-se transformando nesta mágoa que entristece o coração e traz as lágrimas, de quando em vez, sem serem chamadas...
Hoje acho-te tão triste, Celeste! 

E as palavras morrem na garganta porque elas não irão sair nunca... Nunca na vida!!! 

Talvez se transformem em exemplos ou frases elucidativas... Talvez um dia dêem origem a um conselho de vida, quando solicitado! Talvez... Mas só depois do isolamento, do refletir bastante e de ter entendido o que despoletou tal situação. Só quando a mágoa se for embora e der lugar a mais um degrau subido no crescimento e no entendimento da Vida e dos Outros. 

Quando o queixo se erguer ao de leve, novamente, e quando o sorriso habitar o meu rosto... Sim, porque o sorriso não é apenas o resultado de um trejeito dos lábios mas de toda a luz que ilumina um rosto, um ser...

A dor foi tão forte e torna-se tão triste porque as palavras foram proferidas por alguém por quem eu nutria um certo apreço... Tudo se perde no tempo basta que uma  luz ilumine o que tanto trabalho dá a esconder... Apenas uma palavra reveladora E nunca mais nada será como antes... 

O meu sentir poderia ser outro, totalmente diferente se...


Ei-las que chegam de pantufas
Como que envoltas em lãs
Palavras Obtusas
Palavras Vãs



Chegam em nuvem cinzenta
Tais abutres em bando
Rasgando
Triturando 
Anunciando grande Tormenta


Almejam transformar 
A beleza em feiura
A pureza em negrura
A simplicidade em subtileza
Das palavras castas


São Traidoras
Perversas
Perigosas
Maliciosas


Mas desenganem-se
Que aqui não entram
Não causam efeito
Não causam dano
São demasiado despidas
Para qualquer engano

(Celeste Rebordão)


A Coragem de Seres Só

Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

Há muito tempo, uma pessoa amiga enviou-me um texto da Margarida Rebelo Pinto sobre a mágoa...


"É uma palavra bonita, mágoa. Sabe a lágrimas silenciosas, a noites de insónia,
a manhãs de Domingo solitárias e sem sentido.
Está para lá da tristeza, da saudade, do desejo de lutar pelo que já se perdeu,
da raiva de não ter o que mais se queria, da pena de ter deixado fugir um grande amor,
por ser demasiado grande. Primeiro grita-se, barafusta-se, soluça-se em catadupas.
Depois, é o pós-guerra, a rendição, a entrega das armas e as sentenças de um tribunal
marcial interior, em que os juízes são a vida, e o réu, o que fizermos dela.
Limpam-se os destroços. Enterram-se os mortos, tratam-se dos feridos,
que são as nossas feridas, feitas de saudades, de desencontros, palavras infelizes
e frases insensatas, medos, frustrações e tudo o que não dissemos.
A mágoa chega então, quando o cansaço já não nos deixa sentir mais nada.
É silenciosa e matreira, instala-se sem darmos por ela, aloja-se no coração.
Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se,
é preciso continuar a vivê-los, mesmo com dor.
Pelo menos a mágoa magoa, mas faz-nos sentir vivos."

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