...acontece mais alguma coisa para nos colocar à prova...
A VIDA surpreende-nos a cada dia com as suas voltas num círculo que nos vai fazendo esmorecer e renascer de novo.
São estas voltas que num primeiro momento nos deixam petrificados, como que em estado de choque, em que agimos como autómatos mas, posteriormente, exigem a reflexão e tornam-nos no que fomos, no que somos, no que seremos...
Nunca nada está completo...
Nada é para sempre...
Nada é para sempre...
A capacidade de enfrentar obstáculos, ou de ver a beleza da vida, torna-se a cada dia mais forte (ou mais fraca, dependendo da resiliência de cada um).
Se a VIDA fosse linear, talvez nunca soubéssemos qual a capacidade que possuimos de lutar e qual a força que encerramos.
Tudo é passageiro mas o nosso interior vai-se moldando a cada situação, lutando, modificando e aceitando...sempre em crescimento até o círculo se fechar.
És uma borboleta multicolor...
E assim levando e empurrando, aceitando, desafiando e modificando, murchando e renascendo, com sorrisos ou com lágrimas, mas sempre com esperança e gratidão, a VIDA continua porque o "agora" é o unico momento que é real...
E há poetas que são artistas...
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre boa e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.
(Fernando Pessoa - Alberto Caeiro)
(Miguel Torga, A Criação do Mundo, Vol I)
"Tinha a
impressão de que os anos iam enrijando certas regiões do meu carácter.
Era uma espécie de dureza interior progressiva, contra a qual todos os
guilhos da ambiguidade, do convencionalismo, dos interesses e da
convivência se quebravam. Esse monolitismo tornava cada dia mais difícil
um dia-a-dia em que os passos bem sucedidos pressupunham maleabilidade,
brandura, adaptação. Mas, embora visse claramente as vantagens de ser
doutra maneira, sabia que estava condenado a pagar à vida o duro tributo
da sinceridade. Nascera inteiriço, continuaria inteiriço, fossem quais
fossem as consequências."