domingo, 23 de outubro de 2011

...dias que ficam...




...há dias que ficam "presos" no tempo como que à espera de qualquer acontecimento que os desperte... foi o caso deste dia tão especial, perdido em terras do Alentejo...


Vivíamos na vila de São Manços a apenas onze quilómetros de Évora. A vila não é grande mas ali passámos alguns meses inesquecíveis em pleno contacto com a natureza. Na vila corre um rio fino e o meu filho (nesta altura ainda só tinha um filho) adorava ir até aí ver os peixes e os bichinhos que se moviam por entre a transparência das águas e a frescura convidava para as suas margens... perto havia uma quinta onde se fazia criação de cavalos lusitanos. Tudo conjugado para sermos atraídos, quase diariamente, para aquele local... antes de chegarmos passávamos pela Igreja alva e pelos lavadouros da freguesia frequentados por algumas mulheres.


O início das noites era mágico. Junto à nossa casa havia uma cooperativa onde, ao final da tarde, os homens se juntavam e cantavam as lindas cantigas alentejanas... as suas vozes fortes e arrastadas chegavam-nos, como num conto, arrastadas pela aragem que, por vezes, corria... Foram meses em que conhecemos uma outra forma de estar na vida...sem pressa, as horas desfilavam ao ritmo do viver... este de acordo com o aumento e a diminuição da temperatura ao longo do dia...pessoas amistosas e fraternas no trato...

...nunca irei esquecer aqueles meses passados em terras do Alentejo...


Nesse ano o meu aniversário foi num Domingo... pertinho da nossa casa havia uma loja onde se vendia de tudo, mercearia, fruta, roupa, acessórios... e estava aberta durante os sete dias da semana. O meu filho tinha nessa altura cinco anos. A manhã deveria ir a meio naquele dia de Junho.


...o som dos seus passos apressados e a respiração ofegante a subir a escadaria chegavam até mim... o rosto corado de alegria...na mão um embrulhinho de papel colorido e decorado com florinhas...


Parece que o estou a ver neste momento... "Mãe, toma a tua prenda de aniversário"... os meus olhos ficaram cobertos de lágrimas de espanto e emoção e um sorriso abriu-se no meu rosto de felicidade... "Mas, filho como compraste a prenda?"..."Ó Mãe tirei o dinheiro todo do mealheiro mas ainda faltavam algumas moedas mas a senhora da loja disse que não tinha importância porque era a PRENDA para a mãe...", disse ele rapidamente "Ó mãe abre e vê se gostas!" Comovida e feliz abri o embrulhinho... ...lá dentro estava um travessão para apanhar o cabelo decorado com pedrinhas cor de rubi, cor de cereja, cor de romã... cor do AMOR do coraçãozinho dele...

Obrigada, filho, por me dares não apenas a prenda daquele aniversário mas um motivo para jamais me esquecer do teu AMOR e grandeza...

...ficará para sempre...

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