Dona Camila e o seu filhinho
Dona Camila estava deitada e uma duna protegia-a das areias, do vento veloz e das baixas temperaturas. Há trezentos e noventa dias que aguardava a hora do nascimento do seu filhinho e pensava em como estava ansiosa para o ver, para o cheirar, para o proteger. Sabia que seria difícil porque se encontrava sozinha; o pai tinha ido numa caravana até ao norte da península.
Pela madrugada o filhinho nasceu. Enternecida, olhou o seu corpo frágil coberto de uma lã macia. Após duas horas o bebé começou a levantar-se sobre as patas ainda débeis. Voltou a deitar-se, logo de seguida, e procurou o leitinho da mãe.
O filhinho olhava para tudo o que o rodeava ansioso por aprender e, nos dias seguintes, a mãe ensinou-lhe as regras básicas para sobreviver no deserto.
Mas, o que a preocupava era incutir-lhe bons valores como a humildade, a obediência, a coragem, a ajuda ao próximo, a lealdade, a bondade e o valor do trabalho.
Ele ia crescendo e cada dia que passava estava mais forte. Passado um mês a mãe decidiu que já era altura de fazerem uma visita ao pai.
E lá foram eles rumando para Norte. No primeiro dia não se cruzaram com ninguém mas no segundo avistaram ao longe uma caravana formada por muitos outros camelos e pessoas. Apreensiva, a mãe disse ao filho para não se afastar e para se manter junto dela. Ele assim fez. A mãe ficou feliz por ver que o filhinho já tinha apreendido o princípio da obediência e a temer o desconhecido.
Quando chegaram ao acampamento já era de noite. Notava-se tristeza no rosto das pessoas e os animais estavam em silêncio. Dona Camila perguntou o que se passava e um camelo idoso respondeu-lhe numa voz arrastada que o filho mais novo do Sultão estava doente com temperaturas muito elevadas e que estavam todos muito preocupados. Dona Camila falou que conhecia umas ervas muito eficazes para baixar a febre e começou a procurá-las. Fizeram um chá com as ervas e deram a beber ao rapaz. A febre começou logo a baixar e o Sultão como recompensa pela generosidade e bondade da D. Camila, disse que os protegeria até chegarem à caravana do pai do bebé camelo.
Dona Camila ia transmitindo, sem se aperceber, bons valores ao filho através das suas ações. E ele ouvia e observava e, no silêncio da noite, refletia como as boas atitudes só dão bons resultados - agora a sua mãe já não teria de se preocupar com os perigos da viagem.
Passada uma semana chegaram ao acampamento da caravana do pai. Este, feliz, galopou até eles quando os avistou ao longe…o cheiro da família já lhe tinha chegado há algumas horas trazido pelo vento.
O sultão mandou-os chamar e disse-lhes que nunca esqueceria que o filho tinha sido salvo pela D. Camila e como agradecimento eles poderiam viver juntos para sempre no seu oásis.
E assim aconteceu. Dona Camila teve mais três filhos e todos viveram felizes sob a bondade e lealdade do Sultão.
FIM
(Celeste Rebordão)