domingo, 13 de março de 2011

A actualidade


Todos os dias ouvimos vozes que incitam à revolta, à união para que as vozes se façam ouvir contra um governo... ouvimos queixas de falta de trabalho, de trabalhos precários, de trabalhos mal pagos,de estágios não remunerados...
Sempre trabalhei com contratos...nunca fui funcionária pública... Mas já trabalhei com funcionários públicos...
Assisti a tantos despropósitos em todos os locais... Assisti a subsídios a serem camuflados, a saídas para idas ao cabeleireiro durante o horário laboral, à saída para fazer as compras semanais no supermercado ao lado... Ao assinar o livro de ponto e sair-se para tomar o pequeno almoço...aos vinte minutos, ao meio da manhã, para outro pequeno almoço... "Celeste não trabalhe tanto senão ficamos mal vistas...", até ao dia em que por incumprimento dos prazos, o trabalho das "funcionárias públicas" foi entregue a uma empresa privada e a secção foi dissolvida...Claro, que todas as funcionárias foram "encaixadas" noutros serviços e, provávelmente, hoje continuam a ter o mesmo ritmo de trabalho...lento, quase nulo... Quero pensar que eram uma excepção...



Por razões familiares, já vivi em vários pontos do país. Sempre trabalhei sob contratos nas empresas privadas por onde passei. Sempre fui avaliada pelo meu desempenho. Tal facto, nunca me perturbou. As empresas só sobrevivem se os funcionários, os métodos de trabalho e incentivos estiverem em uníssono: Se houver produtividade e escoamento de produtos.



O que mais me perturba é a fuga aos impostos. Todos sabemos que um Estado só pode desenvolver e implementar políticas de saúde, de educação e de protecção social graças aos impostos. Só pode desenvolver infra-estruturas pelos impostos. Temos esta cultura enraizada de contornar o nosso dever de pagar impostos. Deles dependem um vasto conjunto de sistemas que nos protegem, dão segurança e nos conduzem ao progresso. As culturas do norte da europa são muito diferentes: o pagamento de impostos é um bem adquirido e quem "foge" é conectado como um criminoso e não como um "espertalhão"...


Outros países há em que os jovens adultos, para poderem pagar os seus estudos, trabalham em horários compatíveis...e fazem-no orgulhosmente, responsávelmente... Estamos a tornar-nos num país de débeis, em que os jovens adultos só deixam o lar familiar quando têm o futuro assegurado... O futuro será sempre uma incerteza!!! Queremos tudo controlado, tudo por escrito... Certamente os nossos pais foram mais felizes e mais batalhadores... Vejo jovens de trinta e tal anos como se fossem adolescentes... Mas estamos a tornar-nos num país de quê?!!! Quando vai começar a luta, dentro de cada um, e chamarmos as coisas pelos seus nomes? Os partidos políticos atiram culpas uns aos outros, ridicularizam a classe política, fazem jogos no Parlamento como fazem as crianças na escola... Sinceramente, estou a começar a ter vergonha do meu País! E não queria...porque a Esperança sempre foi minha irmã e a Felicidade minha amiga...

Que sejam felizes!

Celeste Rebordão





Um dia, isto tinha de acontecer. Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente! Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Es...tá à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada. Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!! Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço? Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta. Pode ser que nada/ninguém seja assim.(Mia Couto)


"Temos que levar gente, não a uma vida cómoda, a uma vida fácil, mas temos que ter a coragem de levá-la a uma vida difícil, a uma vida perigosa"

"Temos que levar gente, não a uma vida cómoda, a uma vida fácil, mas temos que ter a coragem de levá-la a uma vida difícil, a uma vida perigosa, pois só com uma vida difícil, rigorosa e perigosa, dá o homem o melhor de si próprio. É necessário obrigá-lo a saltar obstáculos. A primeira tarefa de educador é procurar varas bem altas e obrigá-lo a saltar. Baden-Powell [...] queria, para todos os rapazes e para todas as moças, quando chegassem a essa idade, uma educação que lhes temperasse a vontade, não mais gente na rua vendo gente passar, não mais gente encostada pelas portas dos cafés, não mais gente de 20 anos vergonhosamente desocupada, passando todo o dia sem fazer coisa nenhuma, fraquíssima de carácter, fraquíssima de corpo, esperando que chegue o tempo de jantar para que chegue o tempo de dormir para que chegue o tempo de se levantar" – Agostinho da Silva, Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade [1961], in Textos e Ensaios Pedagógicos II, pp.26-27.


2 comentários:

  1. Está tudo muito COMPLICADO..Está tudo ABANDONADO...está tudo ao ocaso, está tudo como senão estivesse nada. Está tudo amargurado, muita GENTE à procura. MUITOS ROSTOS DESANIMADOS, até eu estou certos dias, quando SINTO que num HORIZONTE PRÓXIMO não vou poder ajudar mais , serei só um Número, ou já nem um número serei. Essa a sensação com que se fica neste MUNDO-ACTUAL, somos só um NÚMERO que fica à espera de ser SUBSTITUÍDO por outro e assim para sempre enquanto houver abastança. Por esta via, uma data + próxima que longínqua deixará de haver tudo o que nos mantém vivos e então o Planeta e os ANIMAIS (se restarem alguns) descansarão ATÉ ao DIA que o DEUS SOL se apagará com uma EXPLOSÃO estrondosa de MIL CORES e MIL CLARÕES TENEBROSOS mas NATURALMENTE NATURAIS para a REALIDADE do UNIVERSO em que permaneceu estes MILHÕES de ANOS. TUDO será esquecido para sempre e a vida permanecerá algures em outros pontos a muitos mil ANOS-LUZ deste ponto em ESCURIDÃO Fria e inexistente.

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  2. Obrigada, Álvaro.
    Está sempre tudo em mudança e a mudança pode ser positiva, se assim o quisermos. Não ficarmos de braços cruzados após o desgaste das palavras e das acções. Não cruzarmos os braços à espera que os outros resolvam tudo. Uma gota no Oceano pode fazer a mudança, tal COLIBRI no seu trabalho, incansável, a apagar o incêndio... A mudança tem de começar no interior de cada um de nós.

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