São três horas e trinta minutos. Lá fora a noite está calma e fria. Por norma durmo bem mas, naqueles dias em que o sono teima em não vir por algum assunto por resolver, a cabeça dá voltas e voltas e eu regresso quase sempre ao mesmo lugar - ao lugar onde a felicidade andava de mão dada com a idade e tudo era ultrapassável. Pelo pensamento cruzam-se muitas coisas. Umas, numa tentativa de compreeender atitudes e comportamentos, outras, sobre vários trabalhos que tenho que realizar e sobre os quais ainda não surgiu a ideia "base" para iniciar. Nestes últimos tempos, da era digital, através das redes sociais, tenho verificado que as atitudes não se alteraram muito das de há trinta anos atrás, tempo da minha adolescência. Todos os dias frases que ficaram imunes há passagem do tempo, por terem sido pensadas por pessoas com uma dinâmica de pensar inigualável, são utilizadas nos mais variados contextos. O mesmo acontece com excertos de livros que ficaram retidos na memória e dos quais nos socorremos numa tentativa de encontrar o rumo. Nesta onda de pensamentos lembrei-me do meu Caderno da Capa Cinzenta. É assim que o chamo apesar de não passar de um mero caderno cinzento, pautado, de tamanho A5. Era neste caderno que, na fase da adolescência, eu colocava os meus pensamentos, as tais frases tão marcantes e alguns extractos de livros que achava divinos. Como sei que só irei adormecer quando for vencida pelo cansaço e adversa que sou a "enganar" o sono através de meios químicos, resolvi levantar-me e procurar o tal caderno que me tem acompanhado. Engraçado como ele tem estado sempre num lugar bem próximo ao longo destes trinta e dois anos, numa das gavetas da minha secretária onde, actualmente, trabalho e estudo. Na capa gasta e com algumas dobras tem o ano colocado a tinta azul-1979... Olhei-o carinhosamente. Por estas folhas, amarelecidas pelo tempo, passaram momentos de lágrimas e de felicidade, tão próprios na vida de todos os adolescentes e em qualquer idade... Para alem das frases e dos excertos de livros, tem uma lista dos livros que já tinha lido, oitenta e nove , e dos livros que queria ler com os respectivos autores. Poemas, tantos, de Odette de Saint Maurice, datas de aniversários, desabafos, papelinhos escritos por amigas, poemas escritos para mim ... Manancial de recordações a cada página virada...
"Que o meu coração acompanhe sempre o teu pensamento"
"A mansidão das aves
que desçam dos abismos
que desçam dos abismos
do azul
que venham pousar
e tomar por morada
os teus olhos
e que a divagação
seja como o berço que
embala num vaivém
perpétuo em que as
asas brancas e as
soleiras do orvalho
acariciem os teus
sonhos róseos que
tomam por morada
a tua nave espacial
Que em cada
estrela encontres
uma força para sorrires
que cada flor germine no teu coração."
Tudo tem um tempo próprio para ser vivido, para ser sonhado, para ser utilizado...
A vida segue o seu percurso imperturbável com a passagem do tempo.
O passado faz parte do nosso presente e, de certa forma, condicionou-o mas somos sempre nós a escolher os próprios passos...
- ...no tempo da minha adolescência estes tesouros eram resguardados dos outros OLHARES, atualmente os hábitos são bem diferentes ,,, tudo é exposto, tudo é mostrado,,, numa euforia como se essas frases fossem da autoria de quem publica,,, como se essas frases caracterizem quem as mostra,,, e não é bem assim...
Sem comentários:
Enviar um comentário