domingo, 20 de fevereiro de 2011

Joana Freixo




Para a Joana, menina que caminha em direcção ao Sonho da Vida: Ser feliz no mundo profissional que escolheu para si...



A Joana estudou na Escola Secundário Amato Lusitano e, actualmente, continua a sua formação em Évora, cidade linda, na concretização académica dos seus objectivos.


Porque o SONHO comanda a VIDA, aqui fica o meu ABRAÇO pleno de força para TI...




Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança.

(António Gedeão)

In Movimento Perpétuo, 1956


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O meu caderno de capa cinzenta...





São três horas e trinta minutos. Lá fora a noite está calma e fria. Por norma durmo bem mas, naqueles dias em que o sono teima em não vir por algum assunto por resolver, a cabeça dá voltas e voltas e eu regresso quase sempre ao mesmo lugar - ao lugar onde a felicidade andava de mão dada com a idade e tudo era ultrapassável. Pelo pensamento cruzam-se muitas coisas. Umas, numa tentativa de compreeender atitudes e comportamentos,  outras, sobre vários trabalhos que tenho que realizar e sobre os quais ainda não surgiu a ideia "base" para iniciar. Nestes últimos tempos, da era digital, através das redes sociais, tenho verificado que as atitudes não se alteraram muito das de há trinta anos atrás, tempo da minha adolescência. Todos os dias frases que ficaram imunes há passagem do tempo, por terem sido pensadas por pessoas com uma dinâmica de pensar inigualável, são utilizadas nos mais variados contextos. O mesmo acontece com excertos de livros que ficaram retidos na memória e dos quais nos socorremos numa tentativa de encontrar o rumo. Nesta onda de pensamentos lembrei-me do meu Caderno da Capa Cinzenta. É assim que o chamo apesar de não passar de um mero caderno cinzento, pautado, de tamanho A5. Era neste caderno que, na fase da adolescência, eu colocava os meus pensamentos, as tais frases tão marcantes e alguns extractos de livros que achava divinos. Como sei que só irei adormecer quando for vencida pelo cansaço e adversa que sou a "enganar" o sono através de meios químicos, resolvi levantar-me e procurar o tal caderno que me tem acompanhado. Engraçado como ele tem estado sempre num lugar bem próximo ao longo destes trinta e dois anos, numa das gavetas da minha secretária onde, actualmente, trabalho e estudo. Na capa gasta e com algumas dobras tem o ano colocado a tinta azul-1979... Olhei-o carinhosamente. Por estas folhas, amarelecidas pelo tempo, passaram momentos de lágrimas e de felicidade, tão próprios na vida de todos os adolescentes e em qualquer idade... Para alem das frases e dos excertos de livros, tem uma lista dos livros que já tinha lido, oitenta e nove , e dos livros que queria ler com os respectivos autores. Poemas, tantos, de Odette de Saint Maurice, datas de aniversários, desabafos, papelinhos escritos por amigas, poemas escritos para mim ... Manancial de recordações a cada página virada...



"Que o meu coração acompanhe sempre o teu pensamento"




"A mansidão das aves
que desçam dos abismos
do azul
que venham pousar
e tomar por morada
os teus olhos
e que a divagação
seja como o berço que
embala num vaivém
perpétuo em que as
asas brancas e as
soleiras do orvalho
acariciem os teus
sonhos róseos que
tomam por morada
a tua nave espacial
Que em cada
estrela encontres
uma força para sorrires
que cada flor germine no teu coração."


Tudo tem um tempo próprio para ser vivido, para ser sonhado, para ser utilizado...
A vida segue o seu percurso imperturbável com a passagem do tempo.
O passado faz parte do nosso presente e, de certa forma, condicionou-o mas somos sempre nós a escolher os próprios passos...


  • ...no tempo da minha adolescência estes tesouros eram resguardados dos outros OLHARES, atualmente os hábitos são bem diferentes ,,, tudo é exposto, tudo é mostrado,,, numa euforia como se essas frases fossem da autoria de quem publica,,, como se essas frases caracterizem quem as mostra,,, e não é bem assim...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

As pessoas com mais idade...





Ontem, foi divulgado pelos meios de comunicação social o caso de uma idosa que se encontrava morta há nove anos na sua residência. Todas as diligências necessárias para averiguar qual o seu paradeiro não foram efectuadas apesar dos vizinhos e familiares terem denunciado a situação.

Actualmente, há inúmeras pessoas de idade mais avançada a viverem completamente sós, votadas à solidão e ao abandono, quer pelos familiares, quer pela vida agitada que transforma as relações de vizinhança quase inexistentes. Um ser humano é sempre um ser humano independentemente da idade que tenha.



Diariamente, cruzo-me com pessoas de olhar triste como se a esperança de viver se tivesse desvanecido para sempre. O que nos custa trocar algumas palavras ou apenas um sorriso, um BOM-DIA???


Privamos os nossos filhos do contacto com os avós. Abandonamos os nossos familiares em lares ou na suas residências. Privamo-los do nosso carinho e da nossa companhia e, em simultâneo, estamos a perder o que têm para nos transmitir. Retiramos-lhes o prazer de disporem de algumas economias para as utilizarem de acordo com os seus desejos. Usam roupa que não escolhem. São tratados como crianças, que não são, o que os entristece.
Tudo isto é violência!

Não valorizamos a sabedoria que possuem! O mesmo não sucede noutras sociedades consideradas "atrasadas".


Os dois Lobos

"Um velho Índio Cherokee iniciava o seu neto nos propósitos da vida:
'Uma luta ocorre dentro de mim', dizia ele ao menino. 'É uma luta terrível entre dois lobos. Um é cheio de inveja, cólera, avareza, ciúmes, arrogância, ressentimentos, possessão, mentiras, superioridade, orgulho. O outro é bom. Ele é pacifico, feliz, sereno, humilde, generoso, verdadeiro e cheio de compaixão. Esta luta está também dentro de você, minha criança. Está também dentro de cada pessoa'.
O menino pensa um instante e interroga o avo: 'Qual dos dois lobos ganhara a luta?' O velho Índio responde-lhe simplesmente: 'Aquele que você alimentar'. "



Lenda Sioux da Águia e do Falcão


Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo...

- Nós nos amamos... e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada...
Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte... e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia.

E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!

Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.

O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu eram verdadeiramente formosos exemplares...

- E agora o que faremos? - perguntou o jovem - as matamos e depois bebemos a honra de seu sangue? Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.

- Não! - disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres...

O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... a águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.

E o velho disse:

- Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro...

Se quiserem que o amor entre vocês perdure... voem juntos... mas jamais amarrados.





"A sobrevivência da cultura Guarani, ágrafa por natureza, depende da oralidade dos
membros da família, em especial dos idosos da comunidade. Os povos originários
construíram a história através da memória. Através da oralidade dos “mais velhos” que, por meio de relatos sobre o passado da etnia, revela e cria um vínculo entre os jovens e sua história. Fato significativamente importante para a expansão idiomática e a preservação cultural.
O relacionamento dos “mais velhos” com os mais jovens, propõe um círculo de
amizade e respeito mútuo. Buscam juntos, novos e antigos conhecimentos em estreita harmonia com a dinâmica da vida, sem perder a identidade Guarani. A partir dos 40 anos5 o membro da comunidade “Yynn Morati Wherá” é considerado “idoso”. Que não tem haver com a idade cronológica, como na sociedade nacional, mas pelo conhecimento acumulado da comunidade em que vive. Este pode aconselhar e orientar em caso de ser solicitado para esta tarefa. Entretanto há um membro que imprime o passado e o futuro das gerações Guarani: o Pajé ou Karai6.
Os “mais velhos” da comunidade contam com um valor especial por serem os fios
condutores da cultura, da língua, dos costumes, dos rituais. Destes últimos, os Pajés são líderes religiosos que oralmente transmitem os conhecimentos de seu povo para os mais jovens. Respeitados por sua sabedoria diante das inquietudes dos mais jovens, são consultados enquanto líderes sobre as mais variadas situações políticas e estruturais como a andança” de seu povo. Foi com um líder espiritual e através de suas visões que no século XIX, os Guaranis deixaram seu passado com os colonizadores para encontrar a “Terra sem Males”. Em sua expedição foram guiados por um líder." (Relatos de Iniciação Científica Idosos Indígenas e Comunicação: olhares e aproximações
DOS SANTOS, Scheila1
TORRES-MORALES, Ofelia Elisa2)


Violência contra idosos aumenta em Portugal

Os crimes de violência a vítimas com mais de 64 anos aumentaram de oito para 25 mil nos últimos cinco anos revela um estudo, que cita dados da Polícia de Segurança Pública. O aumento das denúncias pode constituir uma explicação para a elevada subida dos números da violência, sustentou fonte da PSP.

“Os idosos são vítimas silenciosas, já que não apresentam queixa por medo”, explicou fonte da Procuradoria-Geral da República. O gabinete de Pinto Monteiro recebe centenas de denúncias de casos de violência contra idosos. O procurador vai pedir às distritais de Lisboa, Porto, Évora e Coimbra para alertar autarquias, juntas e Segurança Social que denunciem os casos que cheguem ao seu conhecimento.
Pinto Monteiro disse é prioritário combater a violência nos idosos. “Não há nenhuma crítica que me faça desistir do meu caminho” e o facto de serem poucas as denúncias de violência nos idosos explica que a necessidade e urgência em “tomar medidas”.
A agressão a idosos reveste-se de variadas formas: negligência nos Cuidados de saúde e abandono, abusos físicos, maus tratos psicológicos, negligência por abandono, negligência por administração de doses erradas de medicamentos para acalmar o idoso, negligência nos cuidados de saúde, abuso sexual e tentativas de extorsão de dinheiro (em casos de filhos com pais pouco lúcidos). (Fonte: RTP / Agência Lusa)



Dez Réis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.

Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das pernas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

(António Gedeão)






terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Exposição de Fotografia-Rui Dias Monteiro



Figura na Paisagem



Na Sala da Nora, Cine-Teatro Avenida, de 5 a 27 de Fevereiro, exposição de fotografia de Rui Dias Monteiro.


Exposição que reune vinte e uma fotofrafias. Uma que se realça devido ao seu tamanho. Um cão preto que foge...

Imagens do quotidiano onde o escuro salienta o claro. Luz e sombra. O doce colorido que nos transporta à realidade da natureza.


Lindas imagens de cor vestidas. Imagens do quotidiano da vida guardadas na memória de todos nós.


"A expor desde 2005, Rui Dias Monteiro, natural de Castelo Branco, é um dos fotógrafos mais promissores da sua geração. Tendo frequentado o Curso Avançado de Fotografia do Ar.Co, com Bolsa que lhe foi atribuída em 2006 fez uma viagem a Nova Iorque que mudou para sempre o seu olhar. Aos 22 anos, Rui Dias Monteiro publicou por diversas vezes portfolios em publicações, participou na VIII Bienal de Artes Plásticas do Montijo e em várias exposições colectivas. Na galeria Boavista 132, apresentou a sua primeira exposição individual, Lavagem a seco (2006)." (Ricardo Paulouro)





Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)


Salvador Dali – Surrealismo - Óleo sobre tela