Nestes dias tão pequenos o pensamento voa e volta ao tempo em que tudo começou, o ser adulta com responsabilidades, já lá vão 38 anos.
A vida familiar e a atividade profissional do meu marido levou-nos a Lisboa.
Ali vivemos, perto do Alto de S. João e da Praça do Chile e da Avenida Almirante Reis.
Aquele bairro calmo em contraste com o bulício da Almirante Reis. Os cheiros as cores a multiculturalidade... As pessoas sempre numa correria e as saídas do metro com os mais desprotegidos por ali,,, ninguém os encarava de frente talvez por não terem tempo ou talvez para não absorverem a falta gritante de tudo que se lia na postura e no aspeto físico...
Eu via porque tinha tempo... e lia alguma daquela angústia. Um ciclo vicioso aparentemente sem solução à qual não podia ficar indiferente.
As imagens e os aromas ficaram tal como a beleza da cidade carregada de tantas vidas díspares, de tanta arquitetónica, de tanta simbologia.
A beleza dos edifícios, as exposições de artes plásticas enlevavam-me (não foi por acaso a minha escolha no secundário, Introdução às Artes Plásticas, Design e Arquitetura)....mais tarde Serviço Social o que não estranho porque o que mais amo é a Natureza, as Pessoas, o Belo e os Animais.
Foram dois anos muito enriquecedores.
Alentejo, Alandroal e São Mansos.
Alandroal tão perto de Vila Viçosa e S. Mansos tão perto de Évora...
Belo o Alentejo, belo o Cante Alentejano.
Os meus olhos tudo colhiam e, atualmente, as saudades das pessoas com quem me cruzei e das que se cruzaram comigo, são muitas.
A calmaria e a estrada um espelho nos dias de verão.
Geralmente, a nossa casa era mesmo no edifício do Posto da GNR (devido à função do meu marido) o que se tornava uma vantagem porque se tinha de me ausentar os meus filhos ficavam sempre em segurança.
Em S. Mansos o edifício rodeava um pátio interior com um poço e à tardinha ouvia-se o Cante Alentejano que vinha duma cooperativa logo ali.
As imagens e os sons e a generosidade marcaram e ficam retidas para sempre.
As ruas desertas no calor avassalador do verão.
Belmonte, Vila de Belmonte, também nunca esquecerei as suas pessoas, as suas ruas empedradas, a sua história.
Talvez, Belmonte, seja o local que mais amei. Tanta riqueza na sua diversidade cultural, nas tradições.
Ouvir o Rabino nas suas orações...na surdina do anoitecer.
A sua Igreja, a sua Sinagoga, os Museus, o Castelo.
Lindo tudo... tão lindo tudo.
Tantas saudades do que já passou.
A VidA um poema.
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