segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A MulheR e o Cão...



A MulheR, o Cão e---a Criança


Era uma noite agradável de verão. A Mulher saiu acompanhada do seu Cão decidida a sentir no rosto o fresco da noite que se seguiu ao quente do dia. 
Sentou-se na esplanada mais próxima e o Cão, tranquilo, deitou-se ao seu lado como sempre fazia. Uma Criança veio saltitando fazer carícias ao Companheiro e trocar algumas palavras inocentes, lindas, com a Mulher e o Cão. A Mulher olhou ao redor. Numa das mesas, dois casais com duas crianças brincavam com os telemóveis, noutra um homem, solitário, olhava para um pequeno ecrã  sem levantar os olhos totalmente alheado da vida que o rodeava e, na última mesa, um casal de reformados - a mulher tinha um tablet e o marido estava absorto com o que ela lhe transmitia em voz alta sobre as entradas e comentários que iam surgindo na sua rede de amigos do facebook. Depois de ler todos os comentáros, e entre risos, ela diz "e agora o que hei-de comentar?", pergunta ao marido, "ah! Já sei", e de novo mergulha no ecrã sem prestar atenção à resposta recebida.
Subitamente, a voz cristalina da Criança rasga o silêncio(?) e pergunta ao dono do café que, entretanto, tinha vindo até à esplanada controlar os clientes, " o que fazem sete pardais num telhado?" O homem olha para ela surpreendido e responde-lhe, "não sei", e ela feliz, irradiando luz, solta uma gargalhada pura como a água e diz "fazem meia dúzia".

 Santa inocência... 

Ninguém prestou atenção à Criança ou ao seu erro ou à brincadeira  porque todos continuavam mergulhados nos ecrãs, apenas a Mulher sorriu... e acariciou o Cão. Levantaram-se e juntos fizeram o percurso inverso de regresso a casa... A Mulher continuava a sorrir e o Cão abanava a cauda porque a voz da Criança continuava a povoar-lhes a  mente e a aquecer-lhes o coração.
(Celeste Rebordão)


 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ViolênciA DomésticA... ViolênciA FamiliaR

 

 Violência Doméstica... Violência  FamiliaR


Falar sobre violência familiar, sobre violência doméstica, é doloroso mas necessário pois a cada segundo está a acontecer em qualquer lar, em qualquer lugar...
São demasiados casos, são demasiados os números...
Há leis que protegem as vítimas, há programas, existem gabinetes de apoio à vítima,existem alertas...
Mas os números continuam a aumentar...

Chego à conclusão de que o problema só pode ser resolvido através de um programa escolar que aborde a questão, que eduque para o AmoR... Incutir nas crianças o valor do AmoR em todas as suas manifestações... O Respeito pelo Outro, a Tolerância, a Liberdade, o Perdão...


A violência doméstica incide primordialmente sobre mulheres, os números são reveladores... 

Apesar de sabermos que é praticada sobre ambos os sexos e em qualquer faixa etária salientando-se mulheres, crianças e idosos.


A minha homenagem ETERNA às MULHERES... 


Calçada de Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

 (António Gedeão)