sábado, 9 de abril de 2011

V centenário de Amato Lusitano (1511-1568)

João Rodrigues de Castelo Branco, famoso e celebrado médico e humanista português , que passou à história com o nome de AMATO LUSITANO nasceu em Castelo Branco, em 1511, filho de pais judeus. Estudou Medicina na Universidade de Salamanca. Por ser judeu, foi impedido de regressar a Portugal devido às perseguições da Inquisição, o que o levou a viajar para Antuérpia, onde publicou o seu primeiro livro «Index Dioscoridis» (1536). É aí, que adopta o nome de Amato Lusitano, com o qual passa a assinar as suas obras.

Foi senhor de cultura superior, homem do mundo, verdadeiro paradigma da ciência médica do Renascimento, um dos percursores do experimentalismo apoiado no primado da razão.

Viajou por toda a Europa e fixa-se em Ferrara, na Itália. Foi Professor de Anatomia, na Universidade de Ferrara, e assistente do então famoso Cananus. Inicia a escrita da primeira Centúria que dedica a Cosme de Médici. A instabilidade política e religiosa que então se vivia em Itália levou-o a Roma, onde foi médico do Papa Júlio III, Ancona, Pesaro, mas a intensificação da perseguição anti-semita — com a nomeação do Papa Paulo IV — forçaram-no a abandonar a Itália e buscar refúgio no Império Otomano. Primeiro em Ragusa, actual Dubrovnik, que na altura era uma República Independente e, depois, em Tessalónica, hoje Salónica, Grécia, cidade com grande população judaica; parte do Império Otomano, onde escreveu a sua sétima e última Centúria, local onde pereceu, em 1569, com 57 anos, vitimado pela peste que tentou combater. Amato Lusitano foi um poliglota. Dominava o Latim, o Grego, o Hebraico, o Árabe, o Português, o Castelhano, o Francês, o Italiano, o Alemão e, presume-se, o Inglês. Max Solomon, um seu biógrafo, considerou-o como «o Homem que representa a Medicina do século XVI, como erudito, anatomista e clínico». Era conhecido e respeitado, privando de perto com importantes personalidades do mundo ocidental.


Excerto do seu Testamento que revela a sua nobre personalidade: «Sempre tratei os meus doentes com igual cuidado, quer fossem pobres ou nascidos em nobreza, sem procurar saber se eram hebreus, cristãos ou sequazes da lei Maometana; Sempre fui parcimonioso nos honorários e muitas vezes sem qualquer paga, tendo sempre mais em vista que os doentes recobrem a saúde do que tornar-me rico pelos seus dinheiros; Como autor de escritos médicos e ao publicar os meus livros quis só promover que a fé intacta das coisas chegasse ao conhecimento dos vindouros, sem outra ambição que não fosse contribuir de qualquer modo para a saúde da humanidade, sem nada fingir, acrescentar ou alterar em minha honra».


Palavras GRANDES...


Juramento de Amato Lusitano, publicado no ano de 1559.


«Juro perante Deus imortal e pelos seus dez santíssimos sacramentos, dados no Monte Sinai ao Povo Hebreu, por intermédio de Moisés, após o cativeiro no Egipto, que na minha clínica nunca tive mais a peito do que promover que a Fé intacta das coisas chegasse ao conhecimento dos vindouros. Nada fingi, acrescentei ou alterei em minha honra ou que não fosse em benefício dos mortais. Nunca lisonjeei, nem censurei ninguém ou fui indulgente com quem quer que fosse por motivo de amizades particulares; Sempre em tudo exigi a verdade; Se sou perjuro, caia sobre mim a ira do Senhor e de Rafael seu Ministro e ninguém mais tenha confiança no exercício da minha arte; Quanto a honorários, que se costuma dar aos médicos, também fui sempre parcimonioso no pedir, tendo tratado muita gente com mediana recompensa e muita outra gratuitamente. Muitas vezes rejeitei firmemente grandes salários, tendo sempre mais em vista que os doentes por minha intervenção recuperassem a saúde do que tornar-me mais rico pela sua liberalidade ou pelos seus dinheiros; Para tratar os doentes, jamais cuidei de saber se eram hebreus, cristãos, ou sequazes da Lei Maometana; Nunca provoquei a doença; Nos prognósticos sempre disse o que sentia; Não favoreci um farmacêutico mais do que outro, a não ser quando nalgum reconhecia, por ventura, mais perícia na arte e mais bondade no coração, porque então o preferia aos demais; Ao receitar sempre atendi às possibilidades pecuniárias do doente, usando de relativa ponderação nos medicamentos prescritos; Nunca divulguei o segredo a mim confiado. Nunca a ninguém propinei poção venenosa; Com a minha intervenção nunca foi provocado o aborto; Nas minhas consultas e visitas médicas femininas nunca pratiquei a menor torpeza; Em suma, jamais fiz coisa de que se envergonhasse um Médico preclaro e egrégio. Sempre tive diante dos olhos, para os imitar, os exemplos de Hipócrates e Galeno, os Pais da Medicina, não desprezando as Obras Monumentais de alguns outros excelentes Mestres na Arte Médica; Fui sempre diligente no estudo e, por tal forma, que nenhuma ocupação ou circunstância, por mais urgente que fosse, me desviou da leitura dos bons autores; Nem o prejuízo dos interesses particulares, nem as viagens por mar, nem as minhas pequenas deambulações por terra, nem por fim o próprio exílio, me abalaram a alma, como convém ao Homem Sábio; Os discípulos que até hoje tenho tido, em grande número e em lugar dos filhos, tenho educado, sempre os ensinei muito sinceramente a que se inspirassem no exemplo dos bons; Os meus livros de Medicina nunca os publiquei com outra ambição que não fosse o contribuir de qualquer modo para a saúde da Humanidade; Se o consegui, deixo a resposta ao julgamento dos outros, na certeza de que tal foi sempre a minha intenção e o maior dos meus desejos” .


Feito em Salónica, no ano do Mundo 5.319 (1559 da nossa Era).




Em 1946, o Instituto Português de Oncologia iniciou, pela primeira vez em Portugal, a edição da obra de Amato Lusitano, traduzida por Firmino Crespo e José Lopes Dias.


5 de Janeiro de 2011 Nova edição - Amato Lusitano

A Ordem dos Médicos acaba de reeditar as Centúrias de Curas Medicinais de Amato Lusitano, editadas em 1980, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Trata-se de uma reedição de grande importância no panorama editorial português e está disponível em dois volumes.


Em Castelo Branco, foi dado o nome de Amato Lusitano a várias instituições, como exemplo a Escola Secundária Amato Lusitano e o Hospital Amato Lusitano, em homenagem a este vulto da ciência e da nossa cultura.


As comemorações do V centenário do nascimento de Amato Lusitano tiveram início no dia 20 de Janeiro, junto à estátua do médico, no chamado Jardim Amato Lusitano, no centro da cidade de Castelo Branco, com uma sessão pública de homenagem e a apresentação de algumas plantas da sua farmacopeia.


No dia 18 de Fevereiro, na Biblioteca Municipal, teve lugar a conferência, pelo Professor Marinho dos Santos da Universidade de Coimbra, intitulada "A história de Amato Lusitano na História de Portugal".


No mesmo dia, teve lugar no Cine Teatro de Castelo Branco, um concerto de música clássica "Cultura politécnica" pela sinfónica da Escola Superior de Artes Aplicadas (maestro Luis Carvalho) dedicado a Amato Lusitano (houve, na abertura, leitura de textos famosos do destacado albicastrense).


No dia 21 de Março, outra conferência, na mesma Biblioteca: "O meu Amato Lusitano", pelo Professor Ferraz de Oliveira, da Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade de Lisboa; A próxima sessão será sobre "Amato Lusitano em Salamanca", por docentes da Universidade de Salamanca, Professores Emílio Rivas Calvo e Carlos d´Abreu, e ainda pelo jornalista Miguel Santolaya.


Outras conferências previstas estarão a cargo, entre outros, do Professor Fernando Catarino (Botânica) e do Professor Luis S. Grangel (História da Medicina).


Entre 7 e 29 de Maio, estará aberta ao público na Sala da Nora a exposição fotográfica intitulada "O Corpo do Coração" sobre os espaços vivenciais de Amato Lusitano (interiores e exteriores);


Outras exposições previstas:




  • "Património judaico à época de Amato Lusitano", nos dias 17 e 18 de Outubro 2011; e em Novembro de 2011: sobre o escultor da estátua de Amato Lusitano, em Castelo Branco, "Martins Correia";


  • a exposição "Amato: Vida e Obra" (bibliográfica dos estudiosos de todos os tempos de Amato Lusitano), nos dias 10, 11 e 12 de Novembro de 2011;


  • e "Amato Lusitano: O Homem e a Obra", resultante do Concurso de trabalhos literários e de artes plásticas dos alunos das Escolas de Castelo Branco, também nos dias 10, 11 e 12 de Novembro de 2011;


  • Jornadas de Arquitectura "A cidade na época de Amato Lusitano", nos dias 17 e 18 de Outubro de 2011;


  • Jornadas de História da Medicina (XXIII Jornadas de Estudo "Medicna na Beira Interior – da pré-história ao séc. XXI") subordinadas ao tema "Os saberes intemporais de Amato Lusitano".

Publicações (já saídas ou no prelo):




  • "Amato Lusitano Judeu Errante", de Armando Moreno;


  • "Amato Lusitano – Cidadão de Castelo Branco", de José Lopes Dias (reedição);


  • "Ode a Diogo Pires, primo de Amato", de António Salvado;


  • "A história de Amato Lusitano na História de Portugal", de Marinho dos Santos;


  • "O meu Amato Lusitano", de Ferraz de Oliveira;


  • "Dr. Amado – 500 anos", de Alfredo Rasteiro;


  • "Ensaios Amatianos", dois volumes;


  • "Cadernos de cultura "Medicina na Beira Interior – da pré-história aos séc. XXI", 25º volume;


  • Lançamento da revista "Grafema" (dezembro 2011).

Dentro das comemorações, por investigadores liderados pelo Professor António Andrade, da Universidade de Aveiro, a primeira tradução do latim para português das obras de Amato Lusitano: "Index Dioscorides" e "Ennarrationes".


Previstas ainda duas sessões de Música e Poesia (Julho e Agosto 2011); uma prova de pratos típicos relacionados com Amato Lusitano (Setembro 2011)."



Exposição "O Corpo Do Coração Horizontes de Amato Lusitano"


Na Sala da Nora do Cine-Teatro Avenida










Até ao dia 29 de Maio





Juramento de Amberes





Adeus, meus pais. Vou directo para



Amberes, onde não me faltarão



clientes e amigos portugueses.



A.L.



Juro voar como o vento que sopra



se alguém descobrir o meu secreto alfabeto



e tornar e recordar o povo judio



cujo sangue soube saltar de lugar em lugar.





Juro não me deter nem por património



mesmo quando a perseguição for interminável



e que mãos inquietas vão atrás do meu pescoço



para encherem o seu mundo com outro fantasma





Juro mudar de nome durante centúrias



até ser aliado do Deus mais protector



da minha estirpe, já desterrada pelo Egipto



ou na velha Europa da Inquisição





Juro recordar os sete anos de Amberes



e não deixar que a temperaura do exílio



apague do meu coração o mapa português



que levo guardado desde Castelo Branco.


(Versão de António Salvado)


1 comentário:

  1. Adorámos a exposição. Prabésna à Câmara e à Comissão. O catálogo, sóbrio mas de muita qualidade, é um bom exemplo como se podeem fazer coisas boas sem grandes alaridos gráficos ou pseudo-históricos. O texto de Pedro Miguel Salvado é uma lição da verdadeira história da cidade no século XX. Mais projectos deste género que juntem poetas, fotógrafos, pintores e historiadores é o meu pedido
    Carla Louro

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