Recentemente, a minha netinha passa dias seguidos comigo e cada vez nos vamos conhecendo melhor.
Até os nossos silêncios e suspiros...
Quando estou mais tempo em silêncio ela pergunta, "ó avó o que estás a pensar? Parece que estás triste."
Respondo-lhe que estou a pensar, a recordar, a refletir. Tento fazer-me entender a uma criança com uma dezena de anos.
Digo-lhe que um gesto, uma palavra, um objeto me trazem outros momentos passados que, por algum motivo, ficaram arrumadinhos numa gaveta.
Ela diz "Está bem avó " ...
Foi o caso de hoje. Qualquer coisa me lembrou do Sr. António Cordel. Talvez o recordar duma conversa em que referi que os meus pais tiveram durante quase toda a minha vida, após a minha infância, um estabelecimento comercial.
Falei que os clientes eram na sua maioria homens mas também as esposas que iam comprar fruta e queijos, beber um cafezinho, etc.
O papel destes clientes foi muito importante ao longo da minha vida porque nos protegiam, nos aconselhavam. Concluindo, eram uma extensão da mãe e do pai onde quer que estivessemos.
A naturalidade com que estabeleço amizade com homens ou mulheres vem de todo este são convívio que me " fizeram pessoa".
O SENHOR ANTÓNIO "CORDEL"
Estavamos a passar uma temporada na casa dos meus pais. O meu filho João teria uns 5 anos e eu no final da segunda gravidez. Era noite, véspera do Dia dos Reis, e o meu filho disse -me, "mãe queria ir à espera dos Reis". Respondi-lhe que estava muito cansada e ele ficou muito triste. O Sr. António ouviu a conversa e disse-lhe "anda que vamos os dois à espera dos Reis".
E agarrou--lhe a mãozinha e lá foram à espera dos Reis.
Este ato deixou-me imensamente surpreendida e tão grata. Tão grata!!!
O Sr. António já estava doente morrendo algum tempo depois.
É nestas coisas que penso querida netinha, quando o silêncio invade o nosso espaço de amor.