Mãe! Porto de abrigo...
...ela tinha apenas seis anos... a idade da primeira recordação. Poderia ter havido outras mas ficaram esfumadas no encoberto do subconsciente...
Havia o pai, a mãe e os irmãos. A vida era bela e motivadora lá fora... embaciada apenas pelos maus tratos que o pai exercia sobre a mãe...palavras duras, entremeadas por outras agressões. Vozes alteradas e corações a palpitar... Palavras rudes e choro feminino...gravidez após gravidez...a mãe, menina-mulher... Sonhos transformados em nada...menina-mãe-mulher...gravidez após gravidez...
...ela, a menina, tinha apenas seis anos e o seu maior sonho era falar com o pai. Expôr-lhe o que pensava e o que achava que deveria ser mudado. Falar-lhe, apenas, ao coração... Parecia tão simples! Todos os dias, sentada num muro longe de olhares e de ouvidos, ensaiava essa conversa em voz alta: Pai! Não podes tratar assim a mãe. A mãe sofre tanto!!! Pai! Já pensaste como todos poderíamos ser felizes se deixasses de ser assim para a mãe?!
Dia após dia, semana após semana...ensaiava sabendo que nunca teria coragem para falar com o pai...
E nunca falou!
Os anos passaram e a violência continuava...gravidez após gravidez...ano após ano... A mãe envelhecia. Olhar doce e resignado. Fios brancos tingiam-lhe os cabelos castanhos. Linhas finas decoravam o rosto pálido... Sorriso sempre pronto no rosto habitado pela mágoa... Lágrimas que escorriam ao primeiro pensamento...
Sempre linda! A mãe...
Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi “feliz”. Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu lhes disse que eles não entendiam a vida.
(John Lennon)